terça-feira, 2 de março de 2004

Podia repetir?

Escreve a Inês Pedrosa na sua Crónica Feminina desta semana:

"Nesta época de consumismo desenfreado paradoxalmente descrita como de "crise", seria útil que se legislasse - em França, em Portugal, em toda a Europa - contra a ostentação de sinais exteriores de riqueza e distinção social no espaço escolar obrigatório. Ou seja, que se instituísse o uso de uniformes. (...) Recordo com nitidez os intermináveis anos de escárnio e segregação a que eram votadas as raparigas pobres do meu tempo de estudante, num liceu público, porque as suas roupas eram velhas e fora de moda."

Hã? Podia repetir...? Toda a gente foi uma criança cruel ou sentiu que as crianças são cruéis, faz parte do seu crescimento, da sua liberdade, da sua ausência de limites, pelo menos entre os seus iguais e não vem daí tão grande mal ao mundo (excepto quando algum deles pega na caçadeira e desata aos tiros aos gozadores... mas isso é outra história, bem mais complexa que só a crueldade...) Uniformes?! Isto parece-me uma tentativa de ablação cerebral. E falhada porque as crianças não funcionam por interruptores, off ali, já não gozam com a mal-vestida, on acolá, até a chamam para ser colega de carteira... Muito mais importante e coerente do que esta restrição autoritária dos uniformes, parece-me ser educar os pais a educarem os filhos para as sensibilidades sociais, as diferenças culturais, a tolerância. Afinal, é de tolerância que se trata. Imposições anti-luxo nas escolas não me parecem tolerantes, mas sim um tipo de ostracismo, bem pior que o dos miúdos, legislado...

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