sexta-feira, 29 de abril de 2005

A VIDA QUE LEVO...

DENTRO...

Nem pena, nem pincel. Nem caneta, nem teclado. Nem palavras.
Sempre pensei que tudo se podia escrever. Que sempre haveria uma frase para cada sensação, uma palavra para cada expressão corporal, um som para cada sorriso ou cada lágrima.
Mas debato-me agora com o paradoxo do sentimento: sinto algo que não sou eu! Como posso ousar descrever o que sinto nas minhas entranhas, se o que sinto não sou eu? Mexe-se, toca-me por dentro, mas não sou eu.
Está mais dentro de mim do que eu alguma vez conseguirei estar, mas não recordará nada ... Quem me dera poder recordar aquilo que ele sente dentro de mim! Quem me dera senti-lo também!
É tão transcendente, mas não deixa de ser o antigo processo de reprodução da vida.

Perco as palavras quando tento descrever algo tão aparentemente simples como o sentir o meu filho dentro de mim. E por cada palavra perdida cai-me uma lágrima de júbilo.

É o milagre da vida que me vai na alma mas que o meu corpo não consegue falar.

domingo, 3 de abril de 2005

o horizonte em vertical, o que quer que isso queira dizer

"Preparo-me para repetir uma das actividades mais intensas e emocionantes que conheço: caminhar. Quem dera não viajar de nenhuma outra maneira, não ter que desperdiçar horas preciosas desta breve coisa que é a vida, transportado por comboios, autocarros e aviões, ou encolhido no automóvel - o símbolo do movimento mas que, afinal, nos conduz à mais ridícula forma de imobilidade: a posição de sentado.
A melhor percepção do mundo é-nos dada pelo ritmo dos nossos passos. Só que o mundo é demasiado grande, e tentar percorrê-lo a pé não passa de pura utopia. Guardo então as pernas para uma selecção pessoal do melhor do mundo."

(Gonçalo Cadilhe na sua escrita viajante, desta vez sobre a Patagónia, as montanhas Cerro Fitz Roy e Cerro Torre)