segunda-feira, 3 de julho de 2006

Sindicatos e manifestações

Eu não me considero de direita ou esquerda no espectro político, tento ver a coisa com uma lógica de longo prazo que beneficie o maior número de pessoas. Portanto é sempre necessário analisar caso a caso. Mas hoje ouvi num noticiário mais um caso de alegações de um sindicato que quase me empurra para uma curva à direita bem apertada.

Ao que parece o Governo está a lançar (ou lançou) uma alteração à lei da progressão de carreira dos professores.

O efeito prático, para um tipo pouco informado como eu e tendo em conta que só ouvi uma fonte noticiosa, é que os professores que têm o estatuto de "incapacidade" para leccionar (por doença prolongada ou temporária, por incapacidade física, etc) mas que não estão com "licença sem vencimento" continuam como se estivesse activos no sistema de progressão de carreira, recebendo ordenado (não sei no todo ou parcial)!

Em suma, não trabalham mas recebem e progridem da mesma forma que os restantes activos.

Portanto, a lei obriga à aceitação de um de duas situações: trabalhar numa outra função não lectiva na escola ou estruturas do Ministério da Educação; ou a reforma antecipada.

À partida, até me parece uma benesse, já que numa empresa, a pessoa que não pode trabalhar é despedida e indemnizada se a isso tiver directo. Nesta situação, pelo menos, existe uma escolha.

Acontece que o sindicato, não me recordo qual deles, não vê as coisas desta maneira. E considera que se trata de uma forma “escamoteada” de afastar os professores e submetê-los a uma reforma compulsiva.

Choca-me saber que há gente, com poder de influência junto de muitos profissionais da educação, que acredite que é preferível manter um vencimento (nem sequer se trata de um posto de trabalho porque essa pessoa não está a trabalhar) do que lutar pela qualidade do serviço que prestam ou pela garantia da continuidade desse serviço por outras pessoas que, efectivamente, reunião as capacidades e competências para exercerem a docência convenientemente.

Este mesmo governo, resolveu fechar uma data de maternidades, mas o que não transparece é uma série de informações que importava dizer:

Portugal tem uma taxa de mortalidade infantil de 3 por mil, são números que colocam o país no grupo dos 5 do mundo (!!!) com menor taxa de mortalidade infantil.

Há 15 anos, a taxa era de 10 por mil, a fantástica evolução deve-se ao trabalho de formação e reestruturação de todo o sistema liderado por um homem (cujo nome agora não me lembro). Este é um feito notável mesmo para países muitíssimo mais desenvolvidos.

Isto significa que, pelo menos esses “7 por mil” se deviam à assistência deficiente dos profissionais e estruturas de apoio à maternidade.

Esse homem é o director ou presidente (não sei qual é o chapéu) da comissão que reavaliou o estado actual do mesmo sistema e demonstrou a necessidade de fechar as maternidades que estão agora no auge da polémica e moda político-noticiosa.

Ao que parece, e afinal, as razões não são assim tão economicistas (se é que sequer têm algo de economicismo) como os opositores querem fazer passar.

Os tais 1300 partos/ano que cada maternidade deve fazer para se manter activa não tem a ver com dinheiro mas sim com o treino que os médicos têm de ter para poderem reagir, devidamente, às emergências e complicações que surgem estatisticamente em 1300 partos/ano. Com esse treino, os médicos e demais profissionais, conseguem responder não só aos casos programas como os não programados.

Isto é informação que consta do estudo que propõe o encerramento das maternidades, é certo que haverá algo menos correcto no meio do texto todo, mas os noticiários podiam transmitir isto também. Afinal, isto deixa de ser tão sensacionalista se fizerem a simples pergunta às mães: Preferem estar nos 997/mil ou nos 3/mil? Ou então, publiquem as estatísticas das diferentes maternidades e deixem que as pessoas avaliem os resultados. Naturalmente que as que estão agora a fechar têm estatísticas menos “interessantes” que as que se mantêm.

Resta-me a pergunta: que sabem do assunto aqueles centas ou milhares que se manifestam contra o encerramento?

Não que esteja a tomar lados, até agora não tinha razão para estar em nenhum desses, mas a partir de agora fiquei mais inclinado para um dos lados.