terça-feira, 30 de março de 2004

Sonhos: podes ter e podes não ter... ou vice-versa

Alguns têm na vida um grande sonho e faltam a esse sonho. Outros não têm na vida nenhum sonho, e faltam a esse também.
Fernando Pessoa

Imaginárius - Blog de Nuno Martins


quinta-feira, 25 de março de 2004

Abri a janela e vi um livro. Batia as asas febrilmente para não ser arrastado pelo vento. A violência dos seus movimentos faziam-no perder algumas letras, quiçá palavras inteiras. Os raios de Sol batiam no chão e algumas flores choravam de dor e compaixão, mas o chão sofria aquela violência cálida com uma resignação digna de louvor. Acho que o livro nunca me viu, mas eu consegui ler fugazmente uma das frases das suas páginas, quando ordenei ao meu aparelho de visão que passasse para o modo Lento. A verdade é que a frase me desiludiu um pouco: não entrou em mim nem deixou que eu entrasse nela. Já me vinha acontecendo há algum tempo, eu andava preocupado. Três letras caíram agitadas sobre o parapeito da janela e ao sentir a minha preocupação, mostraram-me a língua e fugiram esquivando-se às pancadas dos raios de Sol. Senti-me bastante humilhado com aquele comportamento ordinarão, mas não perdi a dignidade. Os raios de Sol já estavam ameaçadoramente inclinados e pelo sim pelo não fechei a janela.
Dentro de casa tudo na mesma, o computador portátil em cima da secretária, a chávena de chá ainda fumegante e a minha cadeira sozinha de mim. Sentei-me. Pensei que a tese de doutoramento me estava a transformar numa pessoa estranha e até mesmo louca! Onde é que já se viu imaginar raios de Sol num dia de chuva????

quarta-feira, 24 de março de 2004

Ninguém é de Aveiro (versão corrigida)

Estava eu em amena cavaqueira com o Pedro Conde Flor (já de si, o nome promete) quando ele me pergunta de onde sou, ao que lhe respondo que sou de Aveiro. Abismado, confessa-me que perguntar se alguém é de Aveiro é o mesmo que chegar a uma base avançada de sistema de colonização intergaláctica (digamos Marte, base alfa-beta-jota nº1) e pedir para que levantem o dedo os naturais desse posto avançado de penetração intraestelar da raça humana. Ora, qual é a resposta para este enigma? Será Aveiro realmente uma base alfa-beta-jota ou será só que o Pedro não é bom da cabeça?

terça-feira, 23 de março de 2004

Vacinação precisa-se

Tendo acabado de ler o "Samurai: nome de Código", tenho de concordar com a analogia que é feita no livro: a informação é um virus.
E, portanto, a vacina também é informação. Assim, a vacinação geral e maciça é a única forma de evitar a catástrofe. Uma pessoa vacinada (leia-se: informada) é menos susceptível de estar exposta à manipulação do vírus (leia-se: informação) controlado(a) por outrem. Logo: menos sujeita à manipulação!

Qual é a SIDA que este HIV provoca? A ignorância! Que arrasta ainda uma série de efeitos secundários: passividade, alienação, diminuição da capacidade de decisão, diminuição da capacidade de autogestão, entre muitos outros que nem vale a pena aqui relatar. Vão desde a incapacidade de prolongar uma discussão, ou qualquer outro exercício mental/intelectual, por mais do que meros segundos até à deprimente programação televisiva que nos é inculcada diariamente (mas menos mal, caso contrário acabava por investir muito mais tempo na TV que em mim ou em vocês).

Voltando ao assunto…
Vacinar é informar! A vantagem desta ferramenta de desenvolvimento do sistema imunitário intelectual é que pode ser administrada por terceiros, segundos ou até de uma forma autónoma!
Há quem diga que um autodidacta é um ignorante por conta própria, mas eu discuto. Um autodidacta é um doente que recorre a sistema de injecção não-assistida! Por isso, correr grandes riscos de infecção grave embora, por outro lado, possa representar a única solução viável de fuga à doença, num dado momento (embora seja sempre desaconselhável persistir nesta forma de vacinação).

[Imagem de: Toda a Mafalda de Quino.]

Claro está que mesmo as campanhas de vacinação mais potentes deixam sempre escapar alguns. Há sempre uns quantos em quem a vacina não tem efeito nenhum.
Mas, tal como muitos medicamentos, acredito que há nisto uma certa dose de fé, de fé na vacina para que ela própria produza efeito. Parece-me que é necessário ter uma certa consciência no acto da vacinação em si, para que o sistema imunitário responda, rapida e activamente, produzindo os respectivos anticorpos ao virus.

Não é a vacina que mata o virus (aliás, a vacina não é senão o virus em si mas em doses controladas) é a reacção do corpo à vacina. Mas sem a vacina não haveria reacção, embora a vacina sem reacção também não produziria efeitos.
É, em suma, necessária a vacina para estimular a aprendizagem do próprio sistema imunitário.

Desconstruindo a metáfora construida, não é a informação que nos salva, mas o que fazemos com essa informação. Se, com essa informação, não nos obrigamos a despertar o nosso sentido crítico, ficamos sujeitos à manipulação por parte dessa informação. Mas, como a informação não é uma entidade independente, viva, é porque alguém a está a usar para chegar a nós, para nos manipular. Alguém nos quer doentes porque os doentes não dão luta, não se revoltam e, quando o fazem, são fracos e fáceis de derrotar.
É urgente informarmo-nos (vacinarmo-nos) contrar o virus (informação controlada por terceiros com intenções duvidosas). Só com a vacina poderá o nosso corpo produzir o antivirus adequado e necessário.

Bem haja a todos.

Graffiti num autocarro escolar

A autoridade é um vírus, vacina-te.

quinta-feira, 18 de março de 2004

Egoísmo e Comunicação


Acho que somos todos mais frágeis do que gostaríamos, estamos todos ainda a lutar para evoluir, e quando alguém não corresponde às nossas expectativas a culpa não é dela/dele. A aceitação de que ninguém é perfeito e de que o egoísmo e o medo fazem parte da vida ajuda-nos a aceitar as pessoas como elas são, e a ama-las apesar de tudo.

Se eu espero determinada reacção de alguém que não a tem (seja por egoísmo ou qualquer outra coisa) o problema é meu. EU é que construi expectativas. Por que é que alguém egoísta atinge-me tanto? Por que é tão importante para mim que as pessoas se preocupem com os outros, que saibam doar-se? No que é que isso me toca, incomoda-me? [Léa Waider]


Esta é uma das reflexões que mais me atinge, acho que encerra em si mesma uma tão profunda auto-reflexão que me chega a chocar. É daquelas que custa mesmo a fazer. Daquelas que, pondo em prática os seus ensinamentos, grande parte dos nossos problemas interrelacionais ficariam reslvidos mas a preço de um grande esforço que poucos estão dispostos a fazer a tempo inteiro. Penso que nos negamos ao nosso próprio engoísmo como se fosse algum profunda e exlusivamente errado sentir! Ter acções egoístas é uma coisa mas sentir é outra. Pessoalmente tenho tentado perspectivar o egoísmo como parte integrante da minha maneira de ser, é preciso é saber utilizá-lo para o transformar em acções com consequências positivas.

Muita da nossa comunicação "perde-se" por causa desse mesmo egoísmo (mal interpretado). Optamos por ouvir apenas o que queremos ouvir e interpretar da forma como nos convém no momento. Muitas vezes, enganamo-nos a nós mesmos e queremos, à força bruta, acreditar que o outro disse "isto e aquilo" quando "isto e aquilo" não foi sequer aquilo que ouvimos mas aquilo que pensamos que ouvimos! Depois ainda nos damos ao luxo de especular (com base na nossa interpretação errada!) sobre a intenção do outro.
Nota: Atenção! Ler com calma porque não sei se consigo explicar-me melhor.

O processo é deveras complexo:
O emissor pensa em algo [nós nunca pensamos em frases mas em ideias, logo há que traduzir da ideia para a frase], A;
O emissor transmite a mensagem [misturando os seus sentimentos e mais uma data de coisas que lhe passam na cabeça, mesmo sem consciência disso], B;
A mensagem circula num canal que tem ruído [umas vezes mais, outras vezes menos], B';
O receptor recebe a mensagem [o que realmente lhe chega aos sentidos], B'';
O receptor interpreta a mensagem [misturando os seus sentimentos e mais uma data de coisas que lhe passam na cabeça, mesmo sem consciência disso], C;

Entre A e C, há todo um processo onde é muito complicado eliminar o erro. Não é por acaso que opto por dizer B e não A', porque é neste passo (à semelhança de B'' para C) que a grande fatia da propagação do erro na mensagem é feita.
Agora imaginem o que se passa num diálogo, a quantidade de vezes que inúmeros processos destes se interligam criando mensagens tão complexas e tão impregnadas de uma probabilidade de erro que até me admiro como é que o ser humano consegue, efectivamente e alguma vez, comunicar!

Isto tudo, em si mesmo, não é errado mas também não é certo, simplesmente é! O errado ou certo entra depois: no raciocínio que é feito pelo receptor face à mensagem que, segundo nossa visão egoísta (num sentido nada positivo), partimos do pressuposto que conseguimos compreender exactamente o que o nosso emissor queria, efectivamente, dizer. E mais: às vezes temos a lata de ir mais longe, de achar que até sabemos o que o nosso emissor queria dizer mas não disse. Temos a lata de dizer saber o que outro estava a pensar, a verdadeira intenção da sua mensagem.

Temos de deixar de fazer isto? Não!
Eu acho que isto, é como o egoísmo, faz parte de nós e dos outros e não temos de o deixar de fazer, mas sim admitir que, fazendo parte do próprio acto de comunicar, o erro é omnipresente e, logo, temos de aferir a sua probabilidade. Como se calcula isso? Não sei! Mas faço uma sugestão para, em vez de o aferir, garantir a dimunição da sua propagação, da sua presença: Feedback!

Se achavam que eu iría dizer para não falarem tanto, é exactamente o contrário, falar mais ainda mas, conscientes da presença do erro, temos antes de provocar e dar feedback, devolver, em última análise, o nosso C ao emisso para que ele o compare com o seu A. Não digo "eliminar" o erro, porque é impossível, mas tentar multiplicar o processo com sistemas de confirmação e reconfirmação da mensagem recebida para depois, e só depois, partir para a interpretação.
em Toda a Mafalda de Quino.


E mesmo a frase mais directa está sujeita às interpretações mais absurdas.

sexta-feira, 12 de março de 2004

O telejornal é um filme gore

Será que é preciso passarem no telejornal uma gravação de 15 segundos de uma voz aterrada, gritos e explosões ao fundo, para que se perceba a dimensão do horror? Será que o telejornal já é só mesmo um filme gore?

Pensamento do dia

"Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde ir"
Séneca

Da loucura: numa ténue linha entre a cidadania participativa e o terrorismo


Estando numa de procurar uma resposta (em sintonia com os post's anterior), resolvi fazer o teste de loucura apresentando num post antigo da Joana e o resultado foi:
"Your slightly madder then the average person. In other words, your too damn LAZY to be insane."
E por mais estranho/louco que possa parecer... é verdade!

E mais verdade ainda, é que só não sou mais por uma questão de falta de iniciativa contra o poder instalado.

Poder esse que reside apenas na minha mente e que é fonte de inércia a qualquer acção, seja ela louca ou não, basta apenas ser uma acção diferente. É o terror da mudança associada a uma infinidade de possibilidades, consequências e, ou, efeitos colaterais cujo impacto na vida (a minha, sobretudo) são impossíveis de determinar. Desta forma, o poder instalado funciona como uma droga paralisante que, tendenciosamente e constantemente, me empurra para a simples não-decisão. Nem sequer para a decisão pelo o "não", como resposta firme de uma opção tomada em consonância com os respectivos valores internos que orientam, espera-se, o caminho pessoal para a felicidade! Esta não-decisão é bem pior é bem mais terrível, constrangedora, limitativa, ostracisante. Numa palavra só e apenas: provocadora-da-infelicidade-pela-catalização-da-crise-de-identidade (palavra grande, não?).

Vejo que há que se agite na assistência (ali ao fundo… não é você, é a pessoa ao lado… sim, você aí com a camisola) por achar que me refiro ao eterno chavão chamado consciência (ou como Freud prefere o Alter-Ego) mas não, não, não. Nada disso! A pobre consciência é o bode expiatório, ou melhor, a cabra expiatória. Sendo esse o grande trunfo da droga a que me refiro: convencer toda a gente (e sobretudo os viciados nela) que a culpa é da consciência, do Alter-Ego, e não do seu próprio vício! É um pouco como o que se diz do Diabo sobre a sua existência, ou melhor, de ter convencido o mundo que ele não existe, sobretudo o auto-proclamado “mundo moderno” e, ou, “mundo desenvolvido”. Mas isso são outros blogs.

Voltemos à droga, na falta de encontrar (devido a uma pesquisa insuficiente da minha parte e, ou, falta de vocabulário) uma palavra que identifique a dita Droga de uma maneira mais original e esclarecedora, vejo-me forçado a recorrer à imaginação na construção de novos vocábulos.

Assim me surge um nome: fobia. “Tanta caca (sequelas de estrume) para isto?” Pergunta-se a assistência… pois é… mas a pergunta devia ser mais como: “fobia a quê”? e eu respondo.

Trata-se da droga (o medo terrífico) ao állosmorphé (se por acaso se vêem gregos para perceber é por está certo: é grego!). Trata-se de um medo de mudança (morphé) para um outro (állos) que é um “eu” mais e melhor (e muito diferente do actual “Eu”). Um Eu mais à frente no caminho da felicidade (essa “loucura que sabe quanto vale um beijo” - Jorge Palma).

O pânico da transformação para o desconhecido paralisa-nos nesta procura do “lugar ao sol”, não nos permite actuar de forma louca, nessa loucura que nos satisfaz pela livre expressão daquilo que somos e queremos ser.
Não está errado ter medo, muito pelo contrário, ter medo é sinal de inteligência, é sinal que temos a consciência do risco e das consequências (ainda que apenas de algumas). Agora o pânico é o domínio do medo e é a droga que paralisa, a fobia.

E, para os que acham (na assistência) que o que digo não faz sentido com o início desta diarreia intelectual, eu ajudo: só não sou mais louco porque sou “alomorfóbico” ou seja tenho tendência para entrar em pânico na presença de uma eventual alomorfia (passagem de uma forma para outra muito diferente, metamorfose).

Se mesmo assim, a assistência insiste em achar que não faz sentido, resta-me apenas usar um último trunfo: o estrume também não faz sentido, apenas é.

A Besta Humana

Por amizade ou mero conhecimento, alguém perdeu alguém. Por solidariedade, todos perderam muito. Quase tudo.
(Público, 04/03/12 sobre o atentado em Madrid)

Porquê?

Lutar contra a injustiça custa-me mais do que sofrê-la. Jeanne Roland
Imaginárius - Blog de Nuno Martins

Porquê?
Num exame de consciência daqueles que verdadeiramente me custam, tenho de dizer que em muito me identifico com esta reflexão de Jeanne Roland... o que é triste.
Porquê?
Porque opto eu, tantas vezes, por fechar os olhos e suportar a injustiça apenas porque me é mais fácil suportá-la que mudá-la.
Porquê?
Porque razão eu me voto à traição dos meus próprios princípios e dos meus próprios valores que tão acarinho e defendo em acesas discussões temperadas e estimuladas pela companhia de líquidos fermentados?
Porquê?
Porque me refugio em frases fáceis e tão incoerentes com o meu pensar e, sobretudo, o meu discurso como: "Que é que posso fazer? Nada!" ou "O que é que adianta? Sou apenas um!" ou "Para que me vou eu chatear com isso?"?
Porquê?
Haverá maior hipocrisia?
Porquê?
Que moral tenho para depois acusar Durão Barroso e respectivos associados da hipocrisia deles: "Eu não posso condenar as mulheres mas prometio ao povo português que não promovia nenhum referendo sobre o aborto!"?
Porquê?

Terei alguma vez resposta que não em mim mesmo? Não me parece! Então impôe-se:
Porquê?
Porque venho "publicamente" fazer esta pergunta quando não é mais do que em mim que tenho resposta?

Jogo da Valorlis

Graças ao Gaspar que mandou um mail às engenheiras do ambiente, aqui vai um joguito engraçado, a propósito do artigo que escrevi para o Jornal de Notícias. Para quem ainda não sabe, saiu ontem.

http://www.valorlis.pt/jogo.htm

quinta-feira, 11 de março de 2004

Isto somos nós?

Se somos todos iguais, eu também sou terrorista. Eu também ponho uma bomba numa estação de caminhos de ferro de uma capital, em hora de ponta. Eu também acredito que o faço em nome de algo justo. Eu também acredito que é a única forma de que me ouçam.
Se somos todos iguais, eu também sou vítima. Sou a mãe que há 20 minutos deixou o seu filho no comboio para ir para a escola e que agora não sabe se ele ainda vive. Sou a menina de 4 anos que acabou de perder a vida nesse atentado. Sou o pai e marido revoltado e irado, que sentindo-se impotente por ter perdido a sua família, perde também o seu estado de "razão" e termina com a etiqueta de "louco".
Se afinal somos todos diferentes, porque é que ainda não aprendemos a tolerar as diferenças? Porque é que tentamos anular essas diferenças?
Já nem sei quem sou... é isto que eu sou?

quarta-feira, 10 de março de 2004

Movimentos Perpétuos

Quase nunca me apetece dormir. Há qualquer coisa perpétua na noite, não sei se a quietude, se o silêncio, se a intimidade, se a impunidade, mas há qualquer coisa perpétua na noite que eu gosto tanto!

(Fotografia em Warman's Shack)

Sê tu! Mas lembra-te que isso demora-te a vida inteira a ser.

Nunca dês ouvidos àqueles que, no desejo de te servir, te aconselham a renunciar a uma das tuas aspirações. Tu bem sabes qual é a tua vocação, pois a sentes exercer pressão sobre ti. E, se a atraiçoas, é a ti que desfiguras. Mas fica sabendo que a tua verdade se fará lentamente, pois ela é nascimento de árvore e não descoberta de uma fórmula. O tempo é que desempenha o papel mais importante, porque se trata de te tornares outro e de subires uma montanha difícil. Porque o ser novo, que é unidade libertada no meio da confusão das coisas, não se te impõe como a solução de um enigma, mas como um apaziguamento dos litígios e uma cura dos ferimentos. E só virás a conhecer o seu poder, uma vez que ele se tiver realizado. Nada me pareceu tão útil ao homem como o silêncio e a lentidão.
Antoine de Saint-Exupéry

Imaginárius - Blog de Nuno Martins


Sedução

"É muito difícil encontrar alguém que não se possa seduzir. Querendo-se pagar o preço, que pode ser até uma existência, é possível seduzir toda e qualquer pessoa." (João Ubaldo Ribeiro)

Encontrei isto escrito numa agenda literária e fiquei intrigada. Quando era adolescente, acreditava nisto de que fala o excerto, qualquer pessoa poder seduzir seja quem for. Depois, com o tempo, deixei absolutamente de acreditar. Mas agora aqui as coisas são postas noutros termos, no preço poder ser uma existência... O que quererá isto dizer?

segunda-feira, 8 de março de 2004

bis sextilis ante calendes martias

Daqui a 10000 anos, mais onça menos arrátel, vai ser preciso acertar o calendário. Estamos a atrasar-nos 0,0003 dias por ano! É que o o ano equinocial não dura 365,2425 dias mas sim 365,2422 dias. Erro dos astrónomos do Papa Gregório XIII! Até este erro ser assim, pequeno, já se fizeram acertos curiosos ao longo da história, como o de Outubro de 1582: de dia 5 passou-se subitamente para dia 14 e o que eu me pergunto é como é que neste tempo, sem grande mobilidade, nem física nem comunicativa, se avisavam as pessoas deste saltos... Quão eficaz era a sua divulgação? Suspeito que tenha havido muita gente com as voltas trocadas por muitos anos. Ocorre-me que se calhar a tarefa da divulgação cabia aos evangelistas...

Dia da Mulher

deixo-vos aqui um artigo de opinião do jornal Público.

Num País Que Não Respeita Os Meus Direitos Eu Não Quero Viver
Por ANA DRAGO
Segunda-feira, 08 de Março de 2004

- Carta Aberta ao primeiro-ministro

Confesso-lhe que, apesar dos avisos de amigos, não consigo conter o espanto. Não consigo perceber como foi possível que a sua bancada parlamentar tenha recusado um novo referendo que permita descriminalizar o aborto.

Dizem analistas e comentadores que, no dia 3, tudo correu como "previsto". Não creio. Aqui, no espaço sempre incompleto das convicções que vou construindo para mim, não posso senão duvidar desse senso comum que me rodeia. E sei que manter o espanto e a indignação é o único caminho que me resta para manter alguma crença no meu exercício da cidadania.

Por isso, queria que soubesse que agora que se celebra o Dia Internacional da Mulher (8 de Março), é mais um dia em que procuro novos caminhos para saber o que faço da minha revolta com a sistemática condenação do meu direito ao meu corpo. Porque, sejamos claros: não estão as mulheres da Maia e de Aveiro na barra dos tribunais exactamente porque são mulheres? Como perguntava há mais de um século uma escrava americana, também eu olho à minha volta e me pergunto: não sou eu uma mulher?

Sou. Hoje sinto que a minha revolta me faz ser todas as mulheres. Veja-se a patética arrogância.

Hoje sinto que sou todo esse lugar da experiência quotidiana de uma menoridade, um "algo de menos" que é a definição implícita de condição feminina por esse mundo fora, sistematicamente transcrita em violência sobre os seus corpos e as suas sexualidades. Sou as mulheres filipinas que vivem na periferia de Manila, com 7 filhos numa barraca, porque na sua paróquia lhe dizem que o preservativo e a pílula são pecados contra a graça procriadora que Deus lhes atribuiu. Sou a menina africana, a quem fazem uma excisão genital sem saber da sua vontade, para que não caia na corrupção dos prazeres da sua sexualidade. Sou as mulheres espancadas nas ruas da Argélia, por terem ousado mostrar os seus corpos e os seus rostos. Sou a nigeriana condenada a ser apedrejada até à morte, por ter tido um filho fora do casamento. Sou as inglesas violadas no Algarve a quem o juiz português avisou, paternalmente, que deviam saber como se vestir e comportar. Sou a lésbica italiana, insultada na Sicília porque ousa ter prazer com alguém que não um homem. Sou as mulheres agredidas pelos maridos, os pais, os irmãos: sou as 42 espanholas que morreram em 2001 vítimas de violência doméstica. Sou as mulheres de Leste que tentam escapar à pobreza, e que acabam traficadas nas redes de prostituição que se estendem de Lisboa a Xangai. Sou a iraniana sem papéis na França, que faz trabalho doméstico para um patrão que a viola sistematicamente, chantageando-a com a expulsão.

Não. É mentira. Eu não sou, não "represento" todas as mulheres do mundo. Nas categorias do corpo que ordenam o poder, sou branca antes de ser mulher, e isso é todo um mundo de distância da vivência das mulheres negras. Sou nacional da União Europeia, e isso faz toda a diferença em relação às mulheres do Leste Europeu. E, aqui dentro do nosso pequeno país, sou escolarizada e urbana, e isso parece deixar-me estranhamente longe das operárias de Castelo de Paiva que perderam os seus empregos. Afinal, sou apenas mais uma das mulheres, de tantas, que colocaram essa questão: não sou eu uma mulher?

Sou. Sou a mulher que nunca teve educação sexual na escola, ao contrário das holandesas; sou a mulher que não poderá ter três anos de licença de parto como as suecas; sou a mulher que não pode ter direito a aconselhamento no caso de uma gravidez indesejada como as americanas; sou a mulher que não terá direito a fazer um aborto em condições de segurança em Portugal, e, certamente, serei a mulher que irá parar ao banco do Tribunal se a polícia o descobrir. Ser mulher, aqui, neste pequeno país, é carregar o peso pesado de uma concepção machista que vigia o corpo feminino, e o peso morto de uma classe política sem coragem para consagrar a modernidade democrática.

Não sou eu uma mulher? Que democracia é esta que acha que por isso pode tutelar a minha consciência, lugar primeiro da minha liberdade? Não é este o meu corpo? Que democracia é esta que acha que a minha condição de mulher confere ao Estado tutela sobre o meu útero, que me reduz a mera incubadora? Que democracia é esta que arrasta mulheres para tribunal, que tem a ignomínia de perscrutar os seus corpos como se na sua anatomia estivessem as marcas da perversão inabsolvível: essa ideia da mulher não querer ter o filho de uma gravidez que não desejou. Crime hediondo não cumprir a "função" de mãe, certamente contradiz a "natureza" feminina. Que democracia é esta onde sou, como tantas mulheres por esse mundo fora, algo menos do que um homem na minha cidadania?

E porque sou isto, exactamente isto, vivendo aqui, neste estatuto de cidadã menor, que lhe digo que num país em que o Estado não respeita os meus direitos, eu não quero viver.

Não, não me vou embora. Pelo contrário: este será o lugar de luta onde me irá encontrar hoje, amanhã e depois. Comigo estarão todas as mulheres e todos os homens que têm lutado pela minha cidadania plena: os das lutas passadas que abriram caminho para que eu possa estar aqui, os que estão hoje na batalha, os que ainda agora estão a chegar. Trazemos connosco gerações de mulheres votadas à clandestinidade e marcadas por discursos condenatórios, os maridos que apoiaram a sua decisão, as amigas que lhes deram a mão nas clínicas de vão de escada, os filhos que as viram sofrer na sua saúde as consequências do aborto clandestino. É porque não queremos viver assim, porque não podemos viver assim, que nos encontrará aqui as vezes necessárias até que a questão da legalização do aborto seja resolvida.

No passado dia 3, mostrou que não é um grande homem. Mostrou que não pertence aquela cepa de gente que nos momentos difíceis, nos momentos fundamentais, sabe estar à altura das situações. Acobardou-se, preferiu olhar para o lado, esconder a cara. Escolheu uma governabilidade que ficou esvaziada da defesa da dignidade, e isso é rombo indesculpável. É irreparável. Porque a partir de hoje o senhor é o exemplo de uma política vazia, que não responde a nada do que importa, que não se bate por nada do que diz acreditar. E é cúmplice consciente do discurso condenatório, da discriminação persistente contra as mulheres, da sua vivência nesse permanente estatuto de uma cidadania menor. E isso, eu, que sou mulher, não lhe posso perdoar.

sexta-feira, 5 de março de 2004

Lip my stockings


Gostei tanto de Tóquio, especialmente filmado do hotel. É como uma poesia ver a cidade do alto, estar-se mais alto que a cidade! Até a música é tão especial ali. Voltei a ser um bocadinho fã dos Jesus and Mary chain, como já fui há muitos anos.

PORTUGAL: PESSIMISMO E PEDOFILIA

"São dois os principais problemas de Portugal: os poucos pessimistas profissionais, que passam a vidam a contaminar o resto da população, e uma governação inadequada, ineficiente, ineficaz e fora de contacto com a realidade no país."

Leiam o resto deste artigo de opinião escrito pelo inglês Timothy Bancroft-Hinchey, editor do jornal PRAVDA.RU, no site:
http://port.pravda.ru/portugal/2004/01/09/4001.html

Garanto-vos que vale mesmo a pena porque põe qualquer português a pensar..
Portugal está a precisar de levar um balde de água fria para acordar da inércia em que adormeceu depois do 25 de Abril. Nós somos bons e temos que acreditar nisso e continuar a trabalhar para isso.
Gosto muito de Espanha, garanto-vos que vivo bastante melhor aqui, mas cada dia que passa sinto mais vontade de espevitar a gente do meu país... e gritar: EU TENHO ORGULHO EM SER PORTUGUESA!

Onde está Deus?

Um casal tinha dois filhos, um de 8 e outro de 10 anos, que eram uns
pestes.
Os pais sabiam que se houvesse alguma travessura onde moravam,eles com
certeza estariam metidos.
A mãe das crianças ficou sabendo que o novo padre da cidade tinha tido
bastante sucesso em disciplinar crianças.
Então, ela pediu ao padre que falasse com os meninos.
O padre concordou, mas pediu para vê-los separadamente.
A mãe, então, mandou primeiro o filho mais novo.
O padre, um homem alto com uma voz de trovão, sentou o puto e
perguntou-lhe
austeramente:

- Onde está Deus?

O puto abriu a boca, mas não conseguiu emitir nenhum som,ficou
sentado,com a
boca aberta e os olhos arregalados. Então, o padre repetiu a pergunta
num
tom ainda mais severo:

- Onde está Deus?

Mais uma vez o puto permaneceu de boca aberta sem conseguir emitir
nenhuma
resposta.
Então, o padre levantou ainda mais a voz, e com o dedo no rosto do puto
berrou:

- ONDE ESTÁ DEUS?

O puto saiu correndo da igreja directamente para casa e trancou-se no
quarto. Quando o irmão mais velho encontrou-o, perguntou:
- O que é que aconteceu?
O irmão mais novo, ainda tentando recuperar o fôlego,respondeu:
- Desta vez estamos fodidos... Deus desapareceu e acham que fomos nós!!

quinta-feira, 4 de março de 2004

A artista da rádio e da revista e da cassete pirata!

Aproveito esta sequela para anunciar aos meus queridos cagalhotos que aqui a cagalhota luso-espanhola vai estrear-se nos palcos do "glamour" e da "fama", no próximo dia 8, com a peça de teatro "¡Ay Hombres!". Apesar de entrar na pele de uma professora tipo anos 50 (muito Opus Dei!), vou dizer textos de homens... desde o típico machista, até ao endiabrado Valmont (se se recordam do filme Ligações Perigosas).

Tenho muita pena de não poder ter os meus amigos a aplaudir (ou a mandar tomates), mas sei que vão estar comigo, como estão sempre.... Também tenho muita pena de não utilizar a minha língua materna (cada dia gosto mais da nossa querida língua portuguesa), mas devagar se vai ao longe... Se não conseguir nada na Biologia, a ver se consigo em Hollywood.

quarta-feira, 3 de março de 2004

Hoje e Sempre

Falando sobre conflitos de gerações, o médico inglês Ronald Gibson começou uma conferência citando quatro frases:

1. "A nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, despreza a autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Os nossos filhos hoje são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem aos pais e são simplesmente maus."
2. "Não tenho mais nenhuma esperança no futuro do nosso país se a juventude de hoje tomar o poder amanhã, porque esta juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível."
3. "O nosso mundo atingiu seu ponto crítico. Os filhos não ouvem mais os pais. O fim do mundo não pode estar muito longe."
4. "Esta juventude está estragada até o fundo do coração. Os jovens são maus e preguiçosos. Eles nunca serão como a juventude de antigamente. A juventude de hoje não será capaz de manter a nossa cultura."

Após ter lido as quatro citações, ficou muito satisfeito com a aprovação que os espectadores davam às frases. Ele próprio não interpretava o conflito de gerações de um modo radical e, as próprias frases citadas negavam-lhe (e negam ainda a qualquer um) a possibilidade de concordar com as mesmas afirmações. E porquê?

Porque a primeira é de Sócrates (470-399 a.C.)
Porque a segunda é de Hesíodo (720 a.C.)
Porque a terceira é dum sacerdote do ano 2000 a.C.
Porque a quarta estava escrita num vaso de argila descoberto nas ruínas da Babilónia e tem mais de 4000 anos de existência.

Em suma, por mais que a dura crítica recaia sobre a juventude (seja ela quem for e de quando for), é essa mesma juventude que assegurará o futuro e o fará de modo que esse mesmo futuro seja, em si mesmo, uma mudança e, portanto, uma evolução que, esperamos, seja positiva.

Somos nós que acusamos (os jovens) de não se adaptarem ao mundo que nós construímos... ou, em grande parte dos casos, optámos por aceitar e, na sombra, no anonimato, criticamos à porta errada, à pessoa errada, sobre o assunto errado e, quase sempre, tarde demais. E fazêmo-lo tarde com a perfeita consciência disso. Sim! Eu acho que muitas vezes criticamos tarde porque temos a certeza disso mesmo: ser demasiado tarde! Assim, asseguramos que ninguém poderá dizer: "pois então faz melhor" e se, mesmo assim, alguém o dizer podemos continuar com um sorriso de escárnio: "até fazia... mas agora já não posso! É tarde! Não posso alterar o passado!".

Pois eu coloco a mão aberta ao peito e digo: mea culpa. Mas também posso bater com a mão fechada no peito e dizer: é verdade que não posso alterar o passado mas posso alterar o que está feito. Muitos confundem o "passado" com o que "está feito"... eu também. Eu não mudo o que foi feito mas posso mudar o que está feito.

Hoje e Sempre

Quando os pais se acostuma a deixar os filhos fazerem o que querem e quando os filhos já não dão valor à palavra dos pais.
Quando os professores têm medo dos alunos e preferem fazer-lhes as vontades.
Quando finalmente os jovens não têm respeito pelas leis porque já não reconhecem a autoridade de nada nem de ninguém, a não ser deles próprios.

Aí está, em toda a sua beleza e juventude, o Princípio da Tirania.

É necessário despertar a alma a uma sociedade que a traz adormecida. Se não for com recurso à violência (que não a subscrevo) que tal através de um cheiro forte (como os sais que usam para acordar os desmaiados)? Que tal estrume?

PS-> Se acham que a última citação é actual... eu acho! Mas não deixa de ser de Platão...

terça-feira, 2 de março de 2004

Podia repetir?

Escreve a Inês Pedrosa na sua Crónica Feminina desta semana:

"Nesta época de consumismo desenfreado paradoxalmente descrita como de "crise", seria útil que se legislasse - em França, em Portugal, em toda a Europa - contra a ostentação de sinais exteriores de riqueza e distinção social no espaço escolar obrigatório. Ou seja, que se instituísse o uso de uniformes. (...) Recordo com nitidez os intermináveis anos de escárnio e segregação a que eram votadas as raparigas pobres do meu tempo de estudante, num liceu público, porque as suas roupas eram velhas e fora de moda."

Hã? Podia repetir...? Toda a gente foi uma criança cruel ou sentiu que as crianças são cruéis, faz parte do seu crescimento, da sua liberdade, da sua ausência de limites, pelo menos entre os seus iguais e não vem daí tão grande mal ao mundo (excepto quando algum deles pega na caçadeira e desata aos tiros aos gozadores... mas isso é outra história, bem mais complexa que só a crueldade...) Uniformes?! Isto parece-me uma tentativa de ablação cerebral. E falhada porque as crianças não funcionam por interruptores, off ali, já não gozam com a mal-vestida, on acolá, até a chamam para ser colega de carteira... Muito mais importante e coerente do que esta restrição autoritária dos uniformes, parece-me ser educar os pais a educarem os filhos para as sensibilidades sociais, as diferenças culturais, a tolerância. Afinal, é de tolerância que se trata. Imposições anti-luxo nas escolas não me parecem tolerantes, mas sim um tipo de ostracismo, bem pior que o dos miúdos, legislado...

Posted by Flávio Castro Silva

A pedido do Flávio, que entretanto já se conseguiu registar no blog e que portanto não percebo porque não faz ele mesmo o post, deixo aqui o seu contributo para a nossa tertúlia.

Gosto do estrume. Curti a abordagem neo-virtual da vida através desta estupenda colectânea de 'dejectos' psicológicos que fazem os nossos/vossos dias. É verdade que todos cagamos, mas o importante é fazê-lo em grupo e de forma construtiva. E se os nossos dejectos têm vida biológica e mineral, certo e sabido é que tenham uma função no ecossistema universal. Venha de lá a energia mérdica nos nossos dizeres, que faz bem rir e pensar!!
Imaginem que se podia viver com um aparador de ideias às costas; dessa forma, seria mais fácil a sua troca para fins culturais que nos pusessem mais em comunhão. Para isso, seria preciso caracterizar meticulosamente a ideia que se tem - o seu esboço, os propósitos, os meios e os fins,... Por outro lado, dever-se-ia tomar como referência a inspiração dessa ideia. A minha foi um sonho de há muitos anos. Ou mais ou menos. Ocorreu naquele limiar da vigília, quando o cérebro não pára de trabalhar mas as associações racionais, derivado ao sono, revelam-se absurdas mas também geniais.
Mas então, sonhei que tinha uma máquina de registar imagens e cinéticas mentais... Assim lhe chamei, para síntese desta boa ideia. Basicamente, deveria funcionar a tempo inteiro, através de qualquer sistema de captação eléctrico ou químico de cenários mentais que, uma vez processados, faria a sua reprodução numa tela.
Estou convencido que seria uma das maiores invenções, como o foi a da retrete. As suas utilidades são múltiplas: expressão para mudos e autistas, avaliação de conhecimentos disciplinares, testes de verdade judicial e ainda entretenimento alheio. Tudo se pode resumir a um objectivo: a projecção fidedigna das nossas inspirações.
Digam lá o que acham disto... É que, por enquanto, tudo isto é apenas uma inspiração para um conto que se arrasta há muito nos meus cadernos. Algo adiado devido à inutilidade. Aliás, como tudo o que se escreve e não se pratica!
(posted by Flávio Castro Silva)

Antes que o vejam no nome de outra pessoa

Aqui vai, algo entre um artigo de opinião e dicas fáceis e simples de usar. É possivel que o vejam por aí num jornal qq com o nome de outro autor, antes que isso aconteça, mando-vos a versão mais original

Reduzir os resíduos sólidos urbanos
Devido ao aumento do consumismo, a quantidade de lixo produzido diariamente, por pessoa, é cerca de 1 kg, enquanto no início do século XX não chegava às 200 gramas diárias. Como se esse problema não bastasse, a população, apesar de toda a informação disponível, parece que ainda não sabe, ou não quer, fazer a separação destes resíduos. Mas o que é que provoca, afinal, esta inércia toda? Será que as pessoas ainda não se aperceberam da problemática em causa e subsequente contaminação de solo, água e ar, ou será simplesmente a mesma inércia que as leva a não passear, no parque, num domingo de sol, ou que não as leva a apanhar os dejectos deixados para trás, pelo seu cão?
Segundo o Instituto Nacional dos Resíduos (INR) a composição dos resíduos sólidos urbanos (RSU), produzidos em Portugal, em 1997, era maioritariamente verdes, fermentáveis e finos (48%), seguido do papel e cartão (22%), plásticos (13%), vidro (5%), têxteis (4%), metal (3%) e diversos (5%). Com o fim das lixeiras a céu aberto, em Janeiro de 2002, os resíduos domésticos que não podem ser reutilizados ou reciclados têm como destino final a incineração ou o aterro sanitário. Mas se a reciclagem é muito importante e é viável em cerca de 80% dos resíduos domésticos produzidos, é na redução que a “política dos 3R’s” (reduzir, reutilizar e reciclar) começa. É importante que tanto o cidadão comum como as próprias empresas, comecem a pensar na quantidade de lixo que produzem e como o podem reduzir em acções muito simples como fazer compras avulso ou a peso, que habitualmente não vêm embaladas; optar por embalagens familiares que além de serem mais baratas do que as embalagens menores produzem menos resíduos; utilizar sacos de papel, pano ou de rede em vez dos habituais sacos de plástico; utilizar desodorizante de roll-on ou stick em vez dos sprays; utilizar máquinas de barbear eléctricas em vez das lâminas descartáveis; evitar o consumo de pratos de cartão, papel de cozinha, guardanapos e lenços de papel, privilegiando as suas variantes tradicionais; evitar aditivos para a máquina de lavar roupa, uma vez que o detergente comercializado já é composto por anticalcário, amaciador e branquedor; não comprar produtos sobre-embalados (plástico e cartão); sempre que possível, corrigir os textos no ecrã do monitor antes de os imprimir; utilizar folhas de rascunho; utilizar o correio electrónico como forma de comunicação, uma vez que não necessita de papel; não consumir toalhitas humedecidas ou não, utilizadas em grande parte das tarefas domésticas que provocam nas famílias europeias um aumento, por ano, de 50 kg de resíduos a mais, e muito, muito mais!
Mas afinal quais são as vantagens da redução, reutilização e reciclagem? Poupam-se os recursos naturais; reduzem-se os índices de toxicidade do lixo produzido; minimizam-se custos inerentes ao consumo, à produção e ao tratamento de resíduos, que favorece aos municípios, o conjunto de produtores e, sobretudo, os consumidores; trava-se a acumulação de detritos e o desperdício de matérias aproveitáveis; reduz-se a necessidade de novas unidades incineradoras de RSU e de novos aterros sanitários, prolongando a vida útil dos que já existem; diminui-se consideravelmente a poluição do meio ambiente, em particular do ar e água, assim como se diminui a quantidade de energia, resultante do processo de fabrico dos materiais; melhoram-se as condições de saúde da população; nas indústrias, estimula-se o desenvolvimento de “tecnologias mais verdes”; promovem-se mais postos de trabalho; poupa-se a extracção de recursos não renováveis, permitindo uma melhor gestão das matérias primas de que dispomos.
Portanto, reduza, reutilize, recicle e faça a separação do lixo, vai ver que não dói nada!! Porque não herdámos o mundo dos nossos avós, mas pedimo-lo emprestado aos nossos filhos, temos de zelar por ele com muito cuidado se lhes queremos deixar uma vida com qualidade!

segunda-feira, 1 de março de 2004

Rock in LX

Ao contrário de todas as expectativas, conhecendo o tuga-behavior como supunhamos conhecer em que tudo se faz no último dia, com o favoritismo todo a ir para as compras de Natal e o pagamento de impostos, o primeiro dia de venda de bilhetes para o Rock in Rio superou todos os seus antecessores brasileiros, com uma primeira abordagem de 13800 bilhetes vendidos! Porque será? Eu digo que somos uns fascinados... Ainda por cima os bilhetes são a peso de ouro, vá-se lá saber porquê... Cadê a crise?! Seja como for, não deixo de ficar satisfeita com qualquer evento que seja bem sucedido em Portugal, é que é preciso exorcizar a falta de auto-estima e o pessimismo! Não creio infelizmente é que isto seja sintomático de alguma mudança de mentalidades, parecendo-me antes que é um pouco mais do mesmo, em que o que não é nacional é que é bom e portanto 'bora lá aderir e comprar antes que esgote....

Livros e Amizades


A propósito de livros e amizades, acho que deviamos insistir mais na partilha e discussão de grandes temas e, porque não, continuar pelos livros (uma vez que já se começou pelo blog).
Umas tertúlias não apenas virtuais, já que as bocks fazem sempre falta e são ótimos moderadores de conversa e, portanto, potenciadores da reflexão, já que enquanto bebes não falas, nem sequer podes falar com a boca cheia se for bebida!

Eu aceito o desafio do próprio Blog: fazer a sequela do Estrume! Vamos preparar algo verdadeiramente clandestino mas inteligentemente clandestino, não reaccionário pela revolta mas pela mudança creativa e sempre crítica.

Eu quero massificar a crítica e não fazer parte de um grupo restrito de críticos:
"Seguindo as ideias do falecido etnólogo Michel de Certeau, preferimos concentrar a nossa atenção no uso independente dos produtos culturais de massas, um uso que [...] pode não «derrubar o sistema», mas que nos mantêm intactos e autónomos no interior desse sistema; isso pode ser o melhor a que podemos aspirar. [...] Ir à Disneylândia para atirar ácido ao Mickey e ridicularizá-lo não é revolucionário; ir à Disneylândia em plena consciência de que tudo aquilo é ridículo e nocivo e, mesmo assim, divertir-se de uma forma inocente, de maneira quase incosnciênte e psicótica, é algo completamente diferente. É isso que De Certeau descreve como a «arte de estar no meio» e este é o único caminho para a verdadeira liberdade cultural actual. Fiquemos, então, no meio. Adoremos o Baywatch, o Joe Camel, a revista Wired e até os livros resplandecentes sobre a sociedade do espectáculo, mas não sucumbamos à atracção glamourosa destas coisas."

in No Logo de Naomi Klein.