quarta-feira, 21 de novembro de 2007

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Ironia do destino – A Manu vai trabalhar connosco! Javier recebeu a novidade como uma bomba. A Manu, a doce Manu, la femme fatale, aquela que foi a responsável pela grande viragem na sua existência até então pacifica, previsivel e atinada. A Manu foi sem dúvida para ele a paixão da sua vida, o auge da criação. Como sempre, assim que ouve o seu nome regressa áquele passado– Manu... Manu...
“Eu vi-a naquele bar, o seu encantamento trespassava as pessoas até mim. Não consegui evitar olhá-la durante seis minutos e quarenta e dois segundos, o tempo em que se ouvia gliding like a whale (in and out of hotels).
It only takes the time
Between here and there
For a landing in another place
Saw your shadow fleeting
In the corner of my eye
Your feet were skimming the sand
And then some began to fly

Encontrei-a mais tarde na discoteca. Confesso que não a segui, foi talvez o seu encantamento trespassante que chegou até mim. Mais uma vez a ironia da arbitrariedade levou a que existisse um amigo em comum. Assim, o amigo comum apresentou-nos. A partir daí tudo rolava com aquela magia instaladora. Falámos a respeito do ruído daquele local e de como era difícil ouvirmos a nossa própria voz no meio da batida e daqueles graves. Mesmo assim, conversámos durante horas, conversámos até no banco de trás do carro do nosso amigo comum durante a viagem de regresso à casa dele.
Na casa do nosso amigo ela disse-me que gostava mesmo de mim e eu respondi –Engraçado! O sentimento é mútuo!
“Ouvimos discos antigos de 45 rotações do nosso amigo comum e eu disse que aquelas músicas eram a banda sonora das nossas vidas. Ela disse – É verdade. Não é normal.
“Então, dançámos em privado. O nosso balanço estava comprometido com o estado de alcoolemia. Caímos no chão e cantámos uma canção que não conseguirei cantar de novo. Depois beijámo-nos. Beijámo-nos e caímos inconscientes.
Acordei no dia seguinte, ressacado, com uma dor de cabeça daquelas e sozinho. Arrastei-me por ali à procura de uma casa de banho mas tudo o que encontrei foi ela, enrolada noutro amante – nem mais nem menos do que o nosso amigo comum.
Foi assim que o Javier e a Manu se conheceram
A sua história? Confessou-a em tempos idos numa das suas canções como se fosse uma qualquer história de amor...
(Visível)

Amor de pais

"Os pais portugueses são os menos brincalhões da Europa. Apenas 6% divertem-se com os filhos. (...) O sistema aniquilou as redes de comunicação que permitiam a troca de valores e a difusão dos afectos. E está a dissolver o amor."
Baptista-Bastos, "Diário de Notícias", 21-11-2007


O Nuno brinca com o papá e/ou com a mamã pelo menos três horas ao dia. É um sacrifício tremendo da nossa parte sobretudo em termos profissionais (para já não falar no esgotamento físico!!!). Mas tenho a certeza de que o Nuno está a crescer de uma forma saudável, físico-, intelectual-, e emocionalmente. Para além disso, desta forma nós (os adultos da casa) não nos esquecemos de como se brinca. Ontem estive a modelar com plasticina. Há tantos anos que isso já lá ia!!!
Quando tenham filhos, brinquem com eles!
Hoje em dia os meninos dificilmente podem passar o dia a brincar na rua com os vizinhos, ou no campo a sujar a roupa e as mãos. Quando era pequena o meu mundo tinha um raio de 1 km, que eu controlava e conhecia como a palma da minha mão!!! O mundo do Nuno tem 150m2... e aí não cabem campos, nem montes, nem rios, nem caminhos. Mas ele pode ter os mesmos estímulos que eu tive e correr o mesmo tempo que eu corria. Mas para isso precisa de mim e do pai...

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

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Talvez por causa dessa antiga qualidade de Javier, a de ser imune ao pânico causado pelo infinito e pelo silêncio e de não sofrer dos males do sedentarismo, que o cigano (o Homem da porta 24) o escolheu para esta demanda do porco dos túneis. Quanto às suas aventuras com o seu bote insuflável, essas já passaram e, bem vistas as coisas, até contribuíram para o mito.
Tanto o Javier como o cigano são gente viajada mas a diferença que os separa é basicamente o intuito da viagem. Para que serve uma viagem? –Tu aí, para que serve viajares? –Bem, eu costumo usar as viagens para regressar no fim (e para aumentar o ego face aos meus conhecidos (sempre face a alguém)). –E tu? – Eu é para tentar respirar todas as coisas por lá. Mas acabo por conseguir respirar apenas o ar e o intangível. Já diz o outro - Eu venho do nada, porque arrasei o que não quis em nome da estrada.
Como dizia, a diferença que os separa é mesmo o intuito da viagem. Enquanto que Javier procura na viagem o relacionamento com desconhecidos se bem que, quando os laços anseiam por se fechar desaparece para novas aventuras, o Homem da porta 24 nunca se envolve com ninguém e, apesar de nunca se esconder e andar por aí misturado na azáfama dos dias, dificilmente se descobre. Com alguma ventura e perspicácia talvez o possamos encontrar cá de passagem, vestido de preto, chapéu de abas e a sua mala escura. O primeiro, se estiver por cá encontramo-lo de certeza. Estará jovial nalguma praça de gente a contar e a cantar jornadas do mundo mais fabuloso, afinal o mundo dos caminhos.