quarta-feira, 31 de outubro de 2007

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Aventuras estranhas viveu Javier por esse mundo, esse peculiar planeta dos arautos e dos saltimbancos, aqueles que foram passando por loucos, doentes das suas mentes, aqueles que estão sempre de passagem tidos por parvos bêbados e não só. Tipos como ele não usam botas para não ferir o chão, e não queremos deixar pegadas, dizem. O espaço e o tempo não lhes interessam e muito menos os incomodam. Contentando-se com as circunstâncias, com a situação e com as pessoas, vão assim vivendo, sem amarras, sem pressa e sem laços que obriguem à fixação num tempo ou num lugar.
Houve uma noite em Helsínquia, numa das suas ruas que se agitam sob temperaturas de zero graus, em que o fomos encontrar siderado, vestindo o seu então habitual hábito de bobo e estendido no seu fiel bote insuflável que parara no passeio. Com ele estava uma rapariga em igual estado de espírito, repousando no mesmo bote insuflável, em plena rua, naquele passeio que só não congelava devido ao movimento. Recostado ao bordo da embarcação, Javier acompanhava no seu acordeão a Metallica balada “Nothing else Matters” que rodava no seu aparelho montado no lado de fora do barco. Os dois ali estavam, saciando calmamente todos os pretéritos imperfeitos evitando assim que o tempo não os tornasse em passado.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

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À décima sétima hora estão percorridos cerca de 10 Km em direcção ao interior. Uma sensação estranha é partilhada por todos – a sensação de se estarem a afastar do centro ao invés de convergirem para ele. Porquê? Na direcção que tomaram, o seu caminho desdobra-se constantemente em bifurcações. Contudo não se sentem perdidos porque em caso de desistência basta regressar pelo mesmo caminho, caminho esse que converge para o centro – a entrada do túnel. Saberão aí que está o centro porque, a partir desse ponto, para onde quer que vão, o caminho volta a desdobrar-se em bifurcações.
À décima sétima hora estão percorridos cerca de 10Km em direcção incerta para o interior que não é o centro. O porco dos túneis – nem sinais dele, a mínima pegada, o mais insignificante vestígio da sua existência. Nada.

...procura o meu passado...

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

qUEM