segunda-feira, 26 de julho de 2004

A primeira visita

O homem esperava sentado na soleira da porta 24 da rua principal, a algumas dezenas de metros da estação. Tinha ar de quem acabara de chegar de uma terra distante, aliás ao seu lado descansava uma grande mala de plástico preta, parada mas ainda detentora de alguma inércia da viagem. O homem vestia de preto, tinha porte robusto e evidentemente maduro. A sua roupa denunciava a sua condição de solitário viajante, implacável conhecedor do mundo presente e remoto, de quem vem certeiro, enfim implacável.
Comia laranjas e, pelo monte de cascas que tinha a seus pés, já devia ter devorado umas dez. O aroma dos citrinos que devorava já se fazia cheirar a dois quarteirões dali, o suficiente para...
- Ele já está cá! O Imediato chegou.– Informou Catarina que estava de plantão à janela do quinto andar de um prédio da rua principal. –Acabei de cheirar o sinal combinado.- Javier, Careca-filho-da-mãe! Faz o que tens a fazer. Pega no táxi e vai buscá-lo.

sábado, 24 de julho de 2004

Asas Sobre o Mundo/Nas Asas da Saudade

. «(...) Eu sou apenas um guitarrista de pequena música...», respondia Carlos Paredes a António Duarte, do JL, em 1981, depois do jornalista lhe ter perguntado se aceitava dar uma entrevista ao jornal. «Apenas um guitarrista, que nasceu num meio de guitarras, numa família de guitarras. Não de mullheres, nem de homens. De guitarras. (...)A minha música só ficará no espírito daqueles que a viveram no seu tempo. Não tem mais seguidores. Inevitavelmente vao passar...». E continua dizendo que pertence «(...) Como é óbvio ao mundo da pequena música e tenho a experiência suficiente para saber que ela cumpre uma função específica. É que a grande música não deve usar-se em todas as circunstâncias, para seu benefício e de quantos verdadeiramente a apreciam. Por isso, há sempre um lugar em cada canto para a pequena música, um lugar onde ela saberá ser útil à sua maneira».

terça-feira, 20 de julho de 2004

Fantasias

Leio a Playboy pela mesma razão que leio a Nacional Geographic, gosto de ver lugares que sei que nunca irei visitar.
Desconheço o autor (recebi a citação sem referência)
 
Para além de me fazer rir, faz-me pensar.
De que nos servem as fantasias se não são para concretizar, pelo menos, algumas delas?
 
Não corremos o risco de funcionarem no sentido oposto e nos recalcarem ainda mais e de nos conduzirem mais depressa à depressão?
 
Os sonhos deve estar longe o suficiente para serem difícieis de alcançar mas nunca impossíveis, ou, pelo menos, devem-nos fazer acreditar nisso. Empurrar-nos para acção mas não com recompensa fácil e imediata mas sim difícil e realizante.
 
E como questão final, que revista vamos ler agora?

terça-feira, 13 de julho de 2004

Amigos

É tão bom uma amizade assim
Ai, faz também saber com quem contar
Eu quero ir ver quem me quer assim
É bom para mim é bom para quem tão bem me quer.

Que coisa mais linda


Imaginem...
A voz mais doce, o corpo mais frágil, o cenário mais onírico. E esta história contada por esta voz, a sair deste corpo, no centro gravítico do sonho.
Imaginem...
O meu pai é um filósofo, está sempre a magicar ideias. Ele diz que quando nascemos, estamos aterrorizados. Pensamos "- É o fim, vou morrer!". E é só o começo. (...) Na morte, temos medo, pensamos "- É o fim, vou morrer!". E é só o começo, para outro mundo... Em breve este espaço será demasiado pequeno.
(Lhasa de Sela)

quarta-feira, 7 de julho de 2004

A LISTA DO ORGULHO PORTUGUÊS

Lamento discordar da opinião exposta no post "Ai Portugal, Portugal", mas a nossa realidade não é essa. A nossa realidade não é ver tudo negro só porque afinal uma luz se apagou... Continuo sem compreender o que vai nas consciências destes jornalo-critico-analistas, para manter esta nuvem de auto-comiseração sobre o nosso ego. Não ganhámos o campeonato europeu, mas ganhámos a admiração dos nossos parceiros europeus no que respeita ao nível da organização do evento. Não podemos levantar a taça, mas levantámos as bandeiras e as cabeças durante duas semanas.
Mas que raio de comunicação social é a nossa que nos "devolve à triste realidade". Triste realidade têm aqueles que acordam com o mesmo estômago vazio de ontem, têm aqueles cujas lágrimas de dor ressecam nos rostos cansados.
Temos um problemas político? Pois está nas nossa mãos resolvê-lo... com a cabeça erguida e responsabilidade e não como um fardo que nos puseram nas costas. O país é nosso, não é do governo nem da selecção nacional!
Temos excelentes investigadores, excelentes arquitectos, excelentes cozinheiros, excelentes escritores, excelentes empresários, excelentes músicos, excelentes desportistas. Profissionais que são uma referência no estrangeiro, mas praticamente desconhecidos no seu próprio país. Pessoas brilhantes que vão sem dúvida deixar marcas na História. Apresento um desafio a todos os estrumeiros deste blog: tentemos gerar uma lista de personalidades de referência do nosso país, de ideias inovadoras geradas por empresas nacionais. Façamos essa lista chegar mais alto que as vozes roucas daqueles que nos querem fundir de misérias. A lista do ORGULHO PORTUGUÊS.

terça-feira, 6 de julho de 2004

Anjos na América

"(...) existir neste mundo é um doloroso progresso. Da pena do que ficou para trás, da ansia do que está para vir." (Harper, Angels in America)

Cada palavra daqui, cada ideia, é uma catarse, o limite imagético e sensitivo da emoção e da beleza de tudo o que é mais feio e mais bonito. Por favor, façam ouvir-se os anjos. Tenhamos esperança.

segunda-feira, 5 de julho de 2004

Ai Portugal, Portugal

É longo e deixou-me triste...mas se quiserem leiam... É a nossa realidade.

http://ultimahora.publico.pt/shownews.asp?id=1198378&idCanal=56

sexta-feira, 2 de julho de 2004

Injecções de auto-estima aplicadas por via directa no Ego

Não que concorde com tudo o que é escrito aqui, mas dá para me sentir um pouco mais orgulhoso da minha identidade portuguesa.
Diz-se, em Espanha, dos Portugueses e do Portugal

quinta-feira, 1 de julho de 2004

Ela

Ela gemeu até à exaustão, encharcada em cheiros e suores íntimos e tremendo de prazer, enlameada pela luz quadrada cujos vértices marcavam sua pele segundo padrões periódicos no espaço. Os clientes olhavam-na estupefactos, babando-se como crianças.
Soubessem eles, presidentes, clérigos e capitães de Abril, Maio e Novembro, que naquele instante e não muito longe daquele degredo, sob aquela noite chuvosa, de relâmpagos e trovões e cheia de perigos vários, se reuniam num pequeno refúgio onze jovens, filhos de personalidades distintas, a acertar os últimos detalhes d’O Plano.
Com o ultimo trovão da noite culminou o êxtase da rapariga. Soubessem eles que aquele orgasmo deliberadamente sincronizado com o último trovão fazia já parte d’O Plano, que não estariam ali mas no Mar do Norte.
Da noitada resultou uma sala quente do suor colectivo finalmente vazia, mesas sujas de bebida, sofás manchados, nuvens de tabaco inspiradas trinta vezes, doze peúgas, três cuecas e cinco sapatos sem irmão.