segunda-feira, 31 de maio de 2004

Hoje o Sol piscou-me o olho! Não estava à espera desse piropo, mas a verdade é que me exaltou de tal forma o ego que o espelho pela manhã se recusou a devolver-me o meu rosto. Deve tê-lo guardado para pintar um retrato cubista, com certeza; é uma mania antiga que se lhe ficou do antigo dono. E então sorri. Aliás, ri, ri a bandeiras despregadas, gargalhei até não poder mais. Bom, eu até podia mais, mas o vizinho de cima, batendo insistentemente com um pau de vassoura no chão, fez-me recordar que as seis da manhã não são boas horas para despregar bandeiras e muito menos para gargalhar.
Se me piscou o olho, pensei então já mais composta, das duas uma: ou algum vento solar lhe introduziu um neutrino em dito órgão, ou eu lhe despertei algum interesse. Fiquei-me generosa e humildemente pela segunda hipótese. E devo ter acertado, a ver pelo comportamento do espelho.
Isto tudo para dizer que hoje estou feliz. Ou melhor, que hoje sou capaz de ver que sou feliz. Sou feliz!

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digam merda, enfrasquem-se!

droguem-se

e escrevam

excertos de livros de ficcao cientifica

sexta-feira, 28 de maio de 2004

e eles ficam, estão e são

Eram 13h27'34'' quando disse:
e circulavam como se de nada se tratasse mas como se da jornada as suas vidas dependessem.






E eles não estavam errados, aliás, não havia errados nem certos, simplesmente havia, ou haviam.

e quando deram por si não estavam... eram! Eles eram!...

e ali se deixaram ficar, estar e ser.
Como de uma só coisa fossem feitos.... e eram-no, de facto: a energia pura.
e ali se deixaram ficar, estar e ser.

Eles eram para todo o sempre, no ontem, no hoje e no amanhã.
Porque no ontem ninguém pode ficar, estar e ser - tudo em um.
Porque no amanhã ninguém pode ficar, estar e ser - tudo em um.
Porque só no hoje alguém pode ficar, estar e ser. Tudo em um!

Por isso hoje fico, estou e sou. E isto é o meu presente. Tenho de aproveitar, é o meu presente.

eram 13h29'42'' quando disse:
Bem hajam

quinta-feira, 27 de maio de 2004

Fundo

Gosto, gosto deste! Não é demasiado harmonioso, é o melhor! O mais adequado!! Muito bem!

Que bom

Que bom é estar de volta! Vejo a festa, os comentários, os sorrisos no rosto das pessoas por causa do Porto. Ouço-as a dizer "gostava muito de ter estado no Porto ontem, a festejar!" Que bom é voltar a casa, às caras conhecidas, aos locais onde nos sentimos bem e seguros! Eu não tenho muito para contar...afinal foram só quatro dias e em quatro dias não acontece muita coisa, pelo menos muitas coisas das quais queira falar...mas só queria mesmo dizer, que bom é estar de volta às caras conhecidas e que não nos farão mal algum!

Que bom é estar de volta!

sento-me no jardim e penso na vida, hoje

Era meia noite em ponto menos 1 segundo! O sol raiava por entre as nuvens e um homem sentado num banco de pau de pedra, a ler um jornal sem letras à luz de uma candeia apagada, muito bem calado assim dizia: - "Ó lua que vais tao alta, redonda que nem um tamanco; por esta parede acima, sobe um caracol pra baixo; mais vale morrer que falecer, e a terra é uma esfera quadrada que gira parada por entre todas as constelações do Oceano Pacífico".
Não é exactamente assim que diz o homem... Talvez o cenário também não seja exactamente este... Abandona-se-me a memória. Afligir-me-ei?

quarta-feira, 26 de maio de 2004

Os mais velhos nunca conseguiram entender o que era a internet. Provavelmente porque os mais novos nao se interessaram por lhes explicar. A tecnologia avançou mais depressa que as mentes: a distância entre um informado e um leigo atingia quase dimensões genéticas. Para além disso, a sociedade da informação nunca chegou a reger-se por um sistema democrático: a estratificação do conhecimento era tão ou mais evidente que a estratificação económica. E em cada novo dia, os que tinham acesso aos meios informativos aumentavam o alcance do seu conhecimento, ao passo que os milhares de “desinformados” se afundavam ainda mais na sua ignorância.
A milenar sentença “Bem-aventurados os pobres de espírito” deixou de ter aplicação prática nos princípios do século XXI. Os pobres de espírito deixaram então de ter um lugar no mundo e nem o mundo podia gerar mais chão para essa gente. Os novos espaços que iam surgindo eram virtuais, fechados à percepção dos simples. A televisão manipuladora, era o instrumento principal de repressão, de tortura e anulação das mentes. As suas vidas seguiam em função das imagens que diariamente eram meticulosamente escolhidas para os programas televisivos. O fruto proibido do conhecimento nem necessitava ser proibido: para os simples o mundo do conhecimento pura e simplesmente não existia. Ditadura informativa 98 % eficaz!

sábado, 22 de maio de 2004

E porque estrume não é caca

É tertúlia, podem ser difterias criativas ou escorrências filosóficas ou desabafos fermentados.
É bocks, águas, "prato!...".
É Terminal e marisco estragado.
É ahrham e outros que tais.
Ter saudades da fartura de uma vivência que não volta mas, com base nessa, construir outra aproveitando esta que não voltará.

E assim vamo-nos deixando de ouvir na mesma medida em que nos deixam falar.

E a "água" será o meio e o fim. O meio para o "deixei de te ouvir" mas o fim em si mesma para, assim, outro se ouvir ou simplesmente partilhar o momento de beber estando.

sexta-feira, 21 de maio de 2004

Falto-me

Falta-me algo.
O olhar que me devolve o espelho é de interrogação. Pergunta-me algo a que eu não sei responder. E não é só um, são milhares. São milhares de olhares que eu vejo nesse reflexo. São todos os olhos do mundo postos em mim, são todos os juízos do mundo julgando aquilo que sou.
Falta-me algo.
Onde estou não é presente porque o presente nunca me chega. Onde estou não é pergunta, porque fui eu que escolhi este lugar. Mas a verdade, a gélida e branca verdade, é que não me encontro nesse sítio que eu escolhi.
Falta-me algo.
E não é um espírito de descoberta que desperta em mim cada manhã. É um espírito de desilusão pelo que há por saber. Como se o que não se sabe, não viesse a saciar nem um pouco a espectante curiosidade que me assola. Como se o que não se sabe, eu soubesse já que não me chega.
Falta-me algo.
Falta-me sobretudo o que tenho, porque o que não tenho já é negado por esses olhares, já é passado pela minha ausência, já é desilusão pela minha espectativa. Falta-me algo que tenho, porque não o encontro dentro de mim.

Avante Camarada!

Lutar contra os juízos imperfeitos, a reverberação imperfeita ecoante de uma mente ruidosa, os conceitos transformados em pré pela imperfeição da paixão em luta vencedora sobre a razão, lutar, lutar, lutar! E o espaço é maior que tudo isto, no fim de um dia abafado...

terça-feira, 11 de maio de 2004

Da loucura roubada pelos Sábios

Os loucos abrem os caminhos que depois emprestam aos sensatos. [Carlo Dossi]

Ah, loucura! Que nostalgia, que droga viciante a de Ser isento da, insensível à, representação que os demais detêm de mim.
São meus os gritos de guerra contra o vácuo invisível e contra a massa inerte.
E tantas vezes me bato em titânicas lutas que o efeito produzido é a anestesia e me perco sem saber onde me encontro. No vazio invisível? Na massa inerte? Ou num qualquer limbo intermédio? Ou não?...

Quero ser louco, não (apenas) porque me seduz ou porque estou viciado na loucura, mas porque escolho ser e escolho-o na harmonia da eterna e ilimitada possibilidade de Ser o que quero Ser na vontade de cada dia sempre programada na eventualidade de não uma mas várias vidas.

Mas escolha consciente pela loucura é a própria negação dela. O paradoxo do actuar inconscientemente consciente.

Se a loucura pode ser entendida como inconsciência, quero ser loucamente consciente. Consciente de todas as possibilidades mas mais ainda que a possibilidade do estar onde estou, do ser quem sou, é resultante de uma escolha consciente - minha.

Porque nos construímos em relações de afectividade e aprendisagem, apreendemos, portanto, aquilo que nos rodeia. Não nego a possibilidade (até a quase certeza) de o processo ser inconsciente mas luto, insurjo-me e defendo a minha possibilidade de escolha de Ser. Não me nego a mim mesmo mas se não me posso construir, posso escolher quem e o que me constrói e, mais ainda, posso escolher não Ser o que sou agora.

Uma loucura que, por existir na dualidade do ser e do existir, é-o na dualidade do pensar e do sentir.
Se até hoje nunca escolhi ser quem agora sou, pelo menos agora posso escolher se quero continuar a ser quem sou hoje.

Inconsciente é não ter conhecimento da hipótese de escolha e, portanto, não saber que a pode fazer (a escolha) - a bela mas cara ignorância; e ela acaba por formar-se por força das circunstâncias, da casualidade e da impaciência da progressão, aparentemente linear, do tempo.

Conscientemente inconsciente é ter conhecimento da hipótese de escolha mas não a tomar - a opção pela alienação mental, coisa repugnante; e ela acaba por formar-se por força das circunstâncias, da casualidade e da impaciência da progressão, aparentemente linear, do tempo.

Consciente é ter conhecimento da hipótese de escolha mas persegui-la insistentemente - uma obsessão mais paralisante que actuante, coisa deprimente; e ela acaba por formar-se por força das circunstâncias, da casualidade e da impaciência da progressão, aparentemente linear, do tempo.

Inconscientemente consciente é ter conhecimento da hipótese de escolha mas saber que o sou eu que opto mesmo que só em retrospectiva. Pretendo a loucura que me coloca em perturbação mental (daí a inconsciência), permanente ou passageira, na qual se regista não a anulação da personalidade individual mas a construção dela (daí a consciência); e ela (a escolha) acaba por formar-se por força do ser aliada à manipulação das circunstâncias, da casualidade e da impaciência da progressão, aparentemente linear, do tempo.

Correr o risco da loucura é, como diz Dossi, preparar caminhos de futuro mas numa liberdade responsável. É admitir que o impossível é uma possibilidade limitada que só existe porque ninguém descobriu quais os seus limites.

Se antes havia menos acesso a recursos, se havia menos possibilidades e menos tempo livre, então porque me deixo constantemente recair na ridícula auto-comiseração do "antes é que era bom"? Posso continuar a acreditar que se fazia mais e melhor mas como posso acreditar que isso se deve unicamente às circunstâncias de antes se eu próprio as vejo como sendo melhores agora?
Não posso!
Como é duro apontar o dedo a mim mesmo, como é redundante e nada original o meu mea culpa!
Pior: como é banal o papel de vítima de mim mesmo e mais banal ainda o das circunstâncias.

A experiência não é aquilo que nos acontece. É o que fazemos com aquilo que nos acontece. [Aldous Huxley]

Eu sou aquilo que me acontece, sou o que faço com aquilo que me acontece.
Eu não posso ser aquilo que me acontece. Recuso-me veementemente!
E que morra se me nego! Pois vivo já não estaria apenas existiria!

Quero o Ipiranga da pobreza de espírito mas não círculo vicioso que rendunda no eco fossilizado e que apenas tem o (des)mérito de deixar a massa inconsciente perplexa e, ou, chocada(Antônio dos Santos: O Grito do Ipiranga: um Grito sem Eco?).

Assim deve ser convosco; mantenham-se loucos, mas comportem-se como pessoas normais. Corram o risco de ser diferentes - mas aprendam a fazê-lo sem chamar a atenção. Concentrem-se nesta flor e deixem que o verdadeiro Eu se manifeste. Veronika Decide Morrer [Paulo Coelho]

Aprender a fazê-lo, usando palavras emprestadas, recorrendo à delicada arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado subtil de se deixar distinguir. (Paul Ambroise Valery).

A massa nunca gostou (nem gosta) de ser confrontada directamente mas sempre se deixou fascinar pela diferença e, sobretudo, pela diferença dos loucos, embora muitas vezes negando-a, repudiando-a.

Bem haja,

É madrugada ou alucinação

Ver tudo com a pequenez cosmológica deste espaço, relativizar, existir com a leveza da contemplação. Isto é o meu budismo, a minha linha etílica de pensamento em circunstâncias sensitivas.
Às vezes, encontrar uma caneta à mão quando um jorro fortuito e instantâneo surge, parece quase extático mas depois, o jorro é mais vómito. Ou mesmo estrume visceral. E retomo o andamento torpe, sóbrio do caminho.
A embriaguez é a minha alegoria cavernosa, a lucidez do absurdo, a leveza, o silêncio e a paz.