segunda-feira, 31 de outubro de 2005

100 senso comum

Todo o burro come palha, é preciso é saber dar-lha.
Claro, se lhe deres uma palha muito curta, não só come a palha como também te come a mão.

Todos os pássaros comem trigo e quem paga é o pardal.
O pardal sempre foi um tipo fixe, é um mãos largas.

Tristezas não pagam dívidas. / Em Outubro, paga tudo.
Nota pessoa: nunca emprestar nada aos Tristezas. Excepto se for em Outubro.

Escuta o conselho dos outros e segue o teu.
Mais vale dizer que o conselho dos outros não vale nada, se não é para seguir… Mas se este é um conselho a seguir e se não é meu, como posso seguí-lo?
Sei que não é meu conselho, portanto se o sigo não o estou a seguir, porque me manda seguir o meu conselho que, por sua vez, não é este. Sigo sem perceber…

Mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo.
Imagina se o coxo não fosse coxo… ninguém o apanhava!

Bónus:
Mais vale um toma do que dois te darei.

Depende do que oferecem, quando andava na primária tinha muitos “colegas” que sempre que diziam “toma” eu preferia que dissessem duas vezes “te darei”, sempre dava mais tempo para preparar a fuga.

sexta-feira, 28 de outubro de 2005

[7] No dia em que o céu desapareceu

No dia em que o céu desapareceu, as estrelas esfumaram-se em poeira cintilante que fazia arder os olhos quando tentávamos olhar para cima. Reparámos nisso passados dois minutos após termos saído de casa por causa daquilo que nos pareceu ser uma aurora. Saímos, já as pessoas andavam na rua a navegar, passámos pelos vizinhos e seguimos pela calçada. Entretanto os olhos habituaram-se à poeira sideral – cheirava a estrelas vaporizadas
- onde estavas? Não viste aquilo?
Havia algum pânico, só podia ser pânico mas um pânico novo e agradável pois a emoção da novidade afogava todos os medos. Podia ser uma catástrofe mas o orgulho que sentíamos por presenciar um fenómeno que nem sequer os deuses gregos calcularam fazia-nos esquecer o dia seguinte. Não adianta vir a ciência porque apesar de real, o fenómeno foi puramente fantástico. Fantástico mas real. Como seria o dia seguinte, sem poeira cintilante e agora, pela primeira vez sem estrelas?
Brilhamos como estrelas flamejantes, caímos do céu esta noite, amor
- Não é segredo para ninguém.

quinta-feira, 27 de outubro de 2005

100 senso comum

Ferida pequena é que dói.
Pois, as grandes matam...

O amor é cego.
Mas cura-se com o casamento

Há que dar tempo ao tempo
Mais?... quer dizer, o tipo já tem o tempo todo e temos que lhe dar o pouco que ele nos deu? Não posso compreender esta generosidade cuja única hipótese é devolver exactamente o que nos deu com a constante sentença de não ficarmos sequer com o tempo que "foi" nosso. Naturalmente, todos se afirmam como não tendo tempo quando, na verdade, o tempo nunca foi deles e, pior ainda, feita a pergunta certa, todos se afirmam cheios de tempo, por exemplo: conheço muitos que dizem ter mais de 20 anos e, no entanto, não têm 5 minutos. Só me resta concluir que são uns arrogantes por terem tanto tempo e egoístas que nem me dão 5 minutos que, afinal, não são deles!...

Mais vale perder um minuto na vida do que a vida num minuto.
Bom... se a perder apenas num minuto ainda não é mau. Mas tenho de a encontrar logo porque consta por aí que quem perde a vida por mais que 15 minutos nunca mais a encontra.

Amigo não empata amigo.
Muito infelizmente é verdade, há sempre um que ganha, portanto ninguém empata.

quinta-feira, 6 de outubro de 2005

100 senso comum

Onde se chora não cantes.
Até porque ficas sem saber se é por cantares ou não...

Quem mal cospe duas vezes se alimpa.
É tudo uma questão de treino, arte e engenho. Cuspir não está ao alcance de qualquer um sem o devido treino. A arte é mais uma questão de maneira de ser, enquanto o engenho obtém-se pela técnica e estudo das condições do meio e dos instrumentos (boca, língua e matéria-prima).

Boi velho, rego direito.
Nem todos, há por aí muitos que acabam com o rego torto. Mas cada um faz o seu ou pede que lhe o façam. Correndo graves riscos os segundos.

Se vires as barbas do vizinho a arder, põe as tuas de molho.
Sobretudo pelo risco de teres olhado para o espelho e não pela janela.

Nem tanto à terra, nem tanto ao mar.
Em suma, é a levar com as ondas que se está bem? pois pois...

Bónuns: Mais vale cão vivo que leão morto.
Por acaso prefiro ter o leão morto do que o cão vivo, é que o primeiro já não morde.

Quase

Ainda pior que a convicção do não, a incerteza do talvez, é a desilusão de um "quase".

É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.

Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver o outono.Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor, não pergunto, contesto.

A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados.Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.

Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são.Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência, porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.Pros erros há perdão; pros fracassados, chance; pros amores impossíveis, tempo.

De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.

Desconfie do destino e acredite em você.Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu!

[de Luís Fernando Veríssimo]