terça-feira, 24 de agosto de 2004

Reacções - comentário ao "O primeiro sinal"

Na realidade não compreendo porque é que isso acontece (refiro-me às fugas premeditadas à discussão que, segundo dizes e eu acredito, temos usado para te dar umas boas cacetadas). Não compreendo pelo que a mim respeita, quero dizer. Discutir contigo (refutando ou não as tuas opiniões) por escrito é-me muitíssimo mais fácil: as tuas palavras não soam tão prepotentes, não sou pressionada pelo teu olhar terrivelmente avaliador. Enfim, tenho tempo para digerir tranquilamente as tuas palavras e para estruturar a minha resposta. Acredites ou não, quando estamos fisicamente juntos evito argumentar o que quer seja contigo, pela mesma razão que defines perfeitamente no teu post: porque me sinto privada da liberdade de não saber. Isso para mim é terrível, sobretudo porque eu discutindo sobre o que não domino, acabo sempre por ficar a saber um pouco mais. Pode não ser uma boa estratégia de aprendizagem, mas é a minha e até aqui não me tem dado muitos desgostos. Muitos, sublinho. Compreendo perfeitamente a tua, como chamar-lhe ... indignação. Eu também prefiro ser atacada a ser ignorada por causa da minha ignorância.

Ainda bem que o que somos é mais do que um olhar ou uma crítica. Somos uma história, risos, muitas palavras, rudes ou doces, abraços, músicas, lembranças. E ainda bem que é isso de que é feita a amizade. Tás a domar a cena?

terça-feira, 17 de agosto de 2004

Pois assim surge o primeiro sinal!

Hmm, afinal um blog não liberta consciências e não desinibe as opiniões, mesmo que sejam de caca (palavra não-original).

Mesmo que ao início assim pareça, surge o momento em que a auto-crítica suplanta a hetero-crítica, antecipando-se e amplificando o efeito desta última que, pela antecipação da primeira, deixa de existir a segunda.

Ora isto assemelha-se muito ao popular paradigma do ovo e da galinha. Por um lado não me exponho porque acho que me vão interpretar mal, ou menos-bem, assim justifico a minha opção pela não-exposição como forma de evitar o conflito. Mas a maior fraqueza destas armas é, exactamente, terem uma culatra frágil. E isto revela-se um perigo, na grande maioria das vezes, maior que o simples não-uso da arma.

Se parece confuso é mesmo porque o é.

Ora vejamos o sofisma:
Estou a descoberto e não gosto!
Procuro uma defesa.
A melhor defesa é o ataque!
O ataque serve-se de armas (ferramentas, estratégias).
Logo, para evitar a exposição, uso uma arma.

Até aqui tudo bem, o busílis está na resposta a: que arma?
E a falácia está na resposta escolhida: uma arma que evita o conflito externo, transpondo-o para o pior local possível – o interior, a consciência.
O adversário que se debata na sua consciência está, à partida, em grande desvantagem e corre sérios riscos de ser vítima do seu próprio logro já que o seu adversário é ele mesmo! E nunca, jamais, em tempo algum, alguém que se digladie internamente poderá ser vencedor sem passar por ser vítima também. A questão que resta é: afinal qual prevalece?

Correndo o risco de ofender discriminadamente sem, no entanto ser essa a intenção, pergunto: porque será que me temem tanto a ponto de evitar o conflito com medo de ser vítima? Não será isso mesmo assinar a sua sentença de vítima mesmo antes que os outros o façam

Reforço que o que me faz reflectir não é censura em si, na medida da omissão de informação. Mas sim a justificação usada para recorrer a esse procedimento do lápis azul. Isso sim, atinge-me como um cacetada, não tão forte senão muito bem aplicada, em cheio!Porque razão me hão-de me privar do direito a escolher apenas pela simples argumentação de que não tenho o conhecimento técnico e, ou, científico o suficiente para poder escolher?E se é verdade?Vedam-me o direito à escolha apenas porque não sei?Porque não desenvolver esforços conjuntos para que eu tenha a informação suficiente para depois, então, escolher e decidir informadamente?

E Mais, se acham que não sou justo o que me poderá ajudar: ignorar a minha justiça fugindo dela ou levar-me a compreender a vossa?

[E o que começa como comentário acaba em post]

Bem haja a todos,

Vício do Som, Tom, Dom

Não era esta a letra que eu queria pôr, mas não quero ilações apesar de as haver e por isso a outra me diz mais qualquer coisa. Enfim, há quem leia o blog, suponho, e permaneço intacta de integridade.
A Naifa, é preciso ouvir, é preciso babar. Falo sempre de música, e de forma pobre e incompleta mas falo do que me fala a mim, perdoem-me. A metafísica não me assalta ultimamente, apetece-me fugir da responsabilidade da razão! Só me apetece os sentidos e a sensibilidade, excepto naqueles momentos pseudo-políticos inclassificáveis em que tudo é estigma e nada devia ser e eu própria estigmatizo todos os conceitos indevidamente e não consigo nunca observar e considerar com isenção. É um lugar onde nunca conseguirei estar, o vácuo pré, livre de preconceitos. Lamento mesmo muito.


Queixas de um utente
Pago os meus impostos, separo
o lixo, já não vejo televisão
há cinco meses, todos os dias
rezo pelo menos duas horas
com um livro nos joelhos,
nunca falho uma visita à família,
utilizo sempre os transportes
públicos, raramente me esqueço
de deixar água fresca no prato
do gato, tento ser correcto
com os meus vizinhos e não cuspo
na sombra dos outros

Já não me lembro se o médico
me disse ser esta receita a indicada
para salvar o mundo ou apenas
ser feliz. Seja como for,
não estou a ver resultado nenhum.

(José Miguel Silva)