sexta-feira, 21 de maio de 2004

Falto-me

Falta-me algo.
O olhar que me devolve o espelho é de interrogação. Pergunta-me algo a que eu não sei responder. E não é só um, são milhares. São milhares de olhares que eu vejo nesse reflexo. São todos os olhos do mundo postos em mim, são todos os juízos do mundo julgando aquilo que sou.
Falta-me algo.
Onde estou não é presente porque o presente nunca me chega. Onde estou não é pergunta, porque fui eu que escolhi este lugar. Mas a verdade, a gélida e branca verdade, é que não me encontro nesse sítio que eu escolhi.
Falta-me algo.
E não é um espírito de descoberta que desperta em mim cada manhã. É um espírito de desilusão pelo que há por saber. Como se o que não se sabe, não viesse a saciar nem um pouco a espectante curiosidade que me assola. Como se o que não se sabe, eu soubesse já que não me chega.
Falta-me algo.
Falta-me sobretudo o que tenho, porque o que não tenho já é negado por esses olhares, já é passado pela minha ausência, já é desilusão pela minha espectativa. Falta-me algo que tenho, porque não o encontro dentro de mim.

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