sexta-feira, 9 de novembro de 2007

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Talvez por causa dessa antiga qualidade de Javier, a de ser imune ao pânico causado pelo infinito e pelo silêncio e de não sofrer dos males do sedentarismo, que o cigano (o Homem da porta 24) o escolheu para esta demanda do porco dos túneis. Quanto às suas aventuras com o seu bote insuflável, essas já passaram e, bem vistas as coisas, até contribuíram para o mito.
Tanto o Javier como o cigano são gente viajada mas a diferença que os separa é basicamente o intuito da viagem. Para que serve uma viagem? –Tu aí, para que serve viajares? –Bem, eu costumo usar as viagens para regressar no fim (e para aumentar o ego face aos meus conhecidos (sempre face a alguém)). –E tu? – Eu é para tentar respirar todas as coisas por lá. Mas acabo por conseguir respirar apenas o ar e o intangível. Já diz o outro - Eu venho do nada, porque arrasei o que não quis em nome da estrada.
Como dizia, a diferença que os separa é mesmo o intuito da viagem. Enquanto que Javier procura na viagem o relacionamento com desconhecidos se bem que, quando os laços anseiam por se fechar desaparece para novas aventuras, o Homem da porta 24 nunca se envolve com ninguém e, apesar de nunca se esconder e andar por aí misturado na azáfama dos dias, dificilmente se descobre. Com alguma ventura e perspicácia talvez o possamos encontrar cá de passagem, vestido de preto, chapéu de abas e a sua mala escura. O primeiro, se estiver por cá encontramo-lo de certeza. Estará jovial nalguma praça de gente a contar e a cantar jornadas do mundo mais fabuloso, afinal o mundo dos caminhos.

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