quinta-feira, 25 de março de 2004

Abri a janela e vi um livro. Batia as asas febrilmente para não ser arrastado pelo vento. A violência dos seus movimentos faziam-no perder algumas letras, quiçá palavras inteiras. Os raios de Sol batiam no chão e algumas flores choravam de dor e compaixão, mas o chão sofria aquela violência cálida com uma resignação digna de louvor. Acho que o livro nunca me viu, mas eu consegui ler fugazmente uma das frases das suas páginas, quando ordenei ao meu aparelho de visão que passasse para o modo Lento. A verdade é que a frase me desiludiu um pouco: não entrou em mim nem deixou que eu entrasse nela. Já me vinha acontecendo há algum tempo, eu andava preocupado. Três letras caíram agitadas sobre o parapeito da janela e ao sentir a minha preocupação, mostraram-me a língua e fugiram esquivando-se às pancadas dos raios de Sol. Senti-me bastante humilhado com aquele comportamento ordinarão, mas não perdi a dignidade. Os raios de Sol já estavam ameaçadoramente inclinados e pelo sim pelo não fechei a janela.
Dentro de casa tudo na mesma, o computador portátil em cima da secretária, a chávena de chá ainda fumegante e a minha cadeira sozinha de mim. Sentei-me. Pensei que a tese de doutoramento me estava a transformar numa pessoa estranha e até mesmo louca! Onde é que já se viu imaginar raios de Sol num dia de chuva????

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