quarta-feira, 3 de março de 2004

Hoje e Sempre

Falando sobre conflitos de gerações, o médico inglês Ronald Gibson começou uma conferência citando quatro frases:

1. "A nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, despreza a autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Os nossos filhos hoje são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem aos pais e são simplesmente maus."
2. "Não tenho mais nenhuma esperança no futuro do nosso país se a juventude de hoje tomar o poder amanhã, porque esta juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível."
3. "O nosso mundo atingiu seu ponto crítico. Os filhos não ouvem mais os pais. O fim do mundo não pode estar muito longe."
4. "Esta juventude está estragada até o fundo do coração. Os jovens são maus e preguiçosos. Eles nunca serão como a juventude de antigamente. A juventude de hoje não será capaz de manter a nossa cultura."

Após ter lido as quatro citações, ficou muito satisfeito com a aprovação que os espectadores davam às frases. Ele próprio não interpretava o conflito de gerações de um modo radical e, as próprias frases citadas negavam-lhe (e negam ainda a qualquer um) a possibilidade de concordar com as mesmas afirmações. E porquê?

Porque a primeira é de Sócrates (470-399 a.C.)
Porque a segunda é de Hesíodo (720 a.C.)
Porque a terceira é dum sacerdote do ano 2000 a.C.
Porque a quarta estava escrita num vaso de argila descoberto nas ruínas da Babilónia e tem mais de 4000 anos de existência.

Em suma, por mais que a dura crítica recaia sobre a juventude (seja ela quem for e de quando for), é essa mesma juventude que assegurará o futuro e o fará de modo que esse mesmo futuro seja, em si mesmo, uma mudança e, portanto, uma evolução que, esperamos, seja positiva.

Somos nós que acusamos (os jovens) de não se adaptarem ao mundo que nós construímos... ou, em grande parte dos casos, optámos por aceitar e, na sombra, no anonimato, criticamos à porta errada, à pessoa errada, sobre o assunto errado e, quase sempre, tarde demais. E fazêmo-lo tarde com a perfeita consciência disso. Sim! Eu acho que muitas vezes criticamos tarde porque temos a certeza disso mesmo: ser demasiado tarde! Assim, asseguramos que ninguém poderá dizer: "pois então faz melhor" e se, mesmo assim, alguém o dizer podemos continuar com um sorriso de escárnio: "até fazia... mas agora já não posso! É tarde! Não posso alterar o passado!".

Pois eu coloco a mão aberta ao peito e digo: mea culpa. Mas também posso bater com a mão fechada no peito e dizer: é verdade que não posso alterar o passado mas posso alterar o que está feito. Muitos confundem o "passado" com o que "está feito"... eu também. Eu não mudo o que foi feito mas posso mudar o que está feito.

Hoje e Sempre

Quando os pais se acostuma a deixar os filhos fazerem o que querem e quando os filhos já não dão valor à palavra dos pais.
Quando os professores têm medo dos alunos e preferem fazer-lhes as vontades.
Quando finalmente os jovens não têm respeito pelas leis porque já não reconhecem a autoridade de nada nem de ninguém, a não ser deles próprios.

Aí está, em toda a sua beleza e juventude, o Princípio da Tirania.

É necessário despertar a alma a uma sociedade que a traz adormecida. Se não for com recurso à violência (que não a subscrevo) que tal através de um cheiro forte (como os sais que usam para acordar os desmaiados)? Que tal estrume?

PS-> Se acham que a última citação é actual... eu acho! Mas não deixa de ser de Platão...

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