segunda-feira, 14 de junho de 2004

Hoje queimei uma verruga

É tremendo ver que alguma coisa que não és tu, rasga a tua pele e cresce até ao tamanho de uma pequena protuberância inestética e incómoda. Não és tu porque é um vírus, mas anda sempre contigo, sempre dentro de ti. Até que um dia decide ganhar expressão, sair, manifestar-se, mostrar que faz o que quer. E então, sem muito alarido, vai crescendo e sem ser um tormento, vai doendo. E está ali, à vista, asquerosa montanha infectada!
Assim são as palavras, os argumentos, as opiniões, os preconceitos. Nenhum deles és tu, mas de todos és hospedeiro, incubadora de vírus. E às vezes saem da tua boca como diabos das profundezas, manifestam-se! E não os podes parar... e os que estão à tua volta são atingidos por esses projécteis virais que se aerotransportam.
Hoje queimei uma verruga que cresceu na minha pele: o azoto líquido concebeu o perdão eterno a uma coisa que não tendo vida própria, consome a tua por onde lhe convém.
No entanto ainda me sobram muitas verrugas por queimar, mas a essas não afecta nenhum tipo de criogenia. São as verrugas da alma que escupem argumentos que nunca o foram: a anti-dialéctica.

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