segunda-feira, 18 de outubro de 2004

Do caos e dos coabitantes

Como reza a profecia: quando os heterónimos apareceram a dúvida e o mistério se instalaram. A partir daí a discussão perdeu os limites impostos por qualquer pseudo-Mahoma que alguém criou mas que ninguém conhece embora se lhe confira um certo nível de autoridade e legitimidade para a exercer.

O anonimato é perfeito mas delicado enquanto fascinante, permite o exercício de todas as liberdades mesmo as não permitidas. A delicadeza reside na impossibilidade da imputação de culpas e desculpas enquanto o fascino reside na mesma impossibilidade acrescentando a pitada de condimento (por vezes em quantidade e outras vezes até demais) que anima a própria discussão. Óptimo! Que saboroso que é!


Mas que fazer quando os ideais se confrontam?


Poderemos continuar na ânsia da discussão altiva, intelectual, alomórfica, sem, no entanto, optar definitivamente pelo anonimato ou não?

Poderá a liberdade dos identificados prevalecer coabitando com os não-identificados?

Poderão os primeiros e segundos continuar no caminho do mesmo ideal sendo uns coagidos a limites de mundos terceiros e os segundos coagidos apenas ao carácter deles mesmos?

Será viável aceitar que esta coabitação seja saudável permitindo que, em última análise, os segundos (controlados por ninguém senão eles mesmos) tenham o poder de afectar directamente e com efeitos menos positivos a identidade identificada dos primeiros? Mesmo ao ponto de extravasarem as fronteiras da virtualidade e invadirem mundos terceiros, inclusive, o real?

Há muito que faço o esforço e ceder à tentação do heterónimo sem, no entanto, ter sido crítico quanto ao uso dessa ardilosa ferramenta por outros coabitantes. Acho que a coragem reside na identificação, na verdadeira afirmação sem medos e consciente da possibilidade de outros impactos (no aquém ou mesmo no além) porque, no fundo, assumo a liberdade de expressão bem como a responsabilidade dela.

Portanto, é no meu entender, chegada a altura de repensar visto que os universos cresceram de ambos os lados das perspectivas. Foram conquistados adeptos de para ambos os lados da barricada que se começa a formar. Tal como foram reconvertidos uns e outros de um e outro lado para outro e um lado. O caos evoluiu e é o caos que promove a evolução no seu círculo em constantes dualidade que o caracteriza, paradoxalmente, tanto como virtuoso com vicioso.


E vos coloco a final questão: Quando foi que nos perdemos?


Não perdemos, dizeis alguns de vós, então como foi que nos separámos?

Vejo que estamos todos no mesmo barco mas que alguns se dizem que não mais progredimos no mesmo sentido que inicialmente idealizámos. Será que esse ideal se encontra, por força de realidade e da evolução, desactualizado?


Exijo-vos uma resposta não por vocês, não por mim, mas por uma sequela que, se existiu, não me parece que exista agora.

Porque ou estrume é merda ou estrume é bosta. E se o conteúdo vos parece o mesmo (e é!) não o é a forma! E, na forma, está o maior dos segredos sem (nunca, jamais, em tempo algum) esquecer o conteúdo: caca.

Bem hajam,

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