quinta-feira, 1 de julho de 2004

Ela

Ela gemeu até à exaustão, encharcada em cheiros e suores íntimos e tremendo de prazer, enlameada pela luz quadrada cujos vértices marcavam sua pele segundo padrões periódicos no espaço. Os clientes olhavam-na estupefactos, babando-se como crianças.
Soubessem eles, presidentes, clérigos e capitães de Abril, Maio e Novembro, que naquele instante e não muito longe daquele degredo, sob aquela noite chuvosa, de relâmpagos e trovões e cheia de perigos vários, se reuniam num pequeno refúgio onze jovens, filhos de personalidades distintas, a acertar os últimos detalhes d’O Plano.
Com o ultimo trovão da noite culminou o êxtase da rapariga. Soubessem eles que aquele orgasmo deliberadamente sincronizado com o último trovão fazia já parte d’O Plano, que não estariam ali mas no Mar do Norte.
Da noitada resultou uma sala quente do suor colectivo finalmente vazia, mesas sujas de bebida, sofás manchados, nuvens de tabaco inspiradas trinta vezes, doze peúgas, três cuecas e cinco sapatos sem irmão.

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