quarta-feira, 1 de dezembro de 2004

A outra face da reacção

Sem dúvida que é muito confortável não reagir.
É contra esse conforto que eu luto e por isso gostei tanto das palavras do Daniel Sampaio. Abanar os corpos moles sentados em sofás e a engolir tudo o que a televisão e as play stations lhes dão. Não proponho outra solução porque creio que a única solução possível é devolver às pessoas o interesse pelo futuro do seu país.

Mas creio que ainda mais confortável é reagir à reacção. E para estar de moda, porque parece que está de moda estar de moda, estar em desacordo não fundamentado com certos ideais a que seguramente chamam "revolucionários de gaveta".
Pois eu não considero que seja necessário sair à rua e gritar as frases de moda (muito menos que a democracia está em perigo, porque para mim isso seria uma felicidade já que não acredito nela!) nem pintar cartazes. Ainda que me alegraria ver o povo português unido por uma causa diferente da do futebol...
Considero que faz falta educar. As palavras do Daniel Sampaio e de muitos outros, desde há já algum tempo, ensinam o que é e o que poderia ser. A decisão de quem as lê, não é mais do que isso: a sua própria decisão.

Mas tenho que confessar que me dói profundamente ver pessoas inteligentes e lutadoras , pessoas que conseguiram (por seus méritos mas também porque lhes foi dada a oportunidade de fazer valer esses méritos) atingir um nível social e intelectual muito superior à média, a perder o seu tempo a reagir contra a reacção. A gastar a sua energia em criticar aqueles, que estando tão perdidos como todos os demais, tentam buscar um caminho de escape. E dizem-lhes: "Ó meu parvo olha que por aí não há caminho". E dizem-no muitas vezes sabendo de antemão qual é o melhor caminho, mas continuam sentados na sua confortável pedra a ver como se aproxima a tormenta. E então, quando se encontram totalmente encurralados, começam a atirar pedras à tormenta e a fugir aos tropeções.

Até pode ser que o caminho não exista, mas eu prefiro ser engolida pela tormenta com a satisfação de ter tentado. A minha tentativa não foi a mais inteligente, ou a mais eficaz? É bem possível que não. Mas foi uma tentativa.

A essas mentes brilhantes que descortinam as soluções sem ter que sair do seu confortável sofá, o único que eu peço é que partilhem as suas ideias, que ensinem aqueles que não tiveram a sorte de nascer com esse dom.
Mas que por favor, não atirem pedras para dentro das próprias trincheiras.

Não foram preciso greves gerais para que se convocassem eleições, mas se elas tivessem existido, é possível que que nunca tivesse havido nenhuma crise nos meios de comunicação social, ou que não houvesse um mau funcionamento do programa de colocação de professores, ou que os 6000 contratos para investigadores não tivessem sido afinal convertidos em 6000 bolsas.

Não vai ser preciso ir votar em Fevereiro (para quê sair do sofá?, eu até nem confio em nenhum partido) mas os que o fizerem, por muito poucos que sejam, darão a sua opinião que será delegada nos seus representantes. E se eles lhes falharem , porque somos humanos!, terão todo o direito em pedir-lhes contas. Se o voto for em branco, terão dito claramente que nenhum partido apresentado lhes transmite a confiança de delegar nele as suas opiniões. Os que não tiverem votado, estarão apenas a atirar pedras à tormenta.

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